Crítica sobre o filme "Cold Mountain":

Eron Duarte Fagundes
Cold Mountain Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 09/09/2004

Cold mountain (2003), o novo filme de Anthony Minguella, revela o impasse do atual cinema praticado em Hollywood. Em sua realização anterior, O talentoso Ripley (1999), Minguella refilmava quase texto por texto um clássico do francês René Clement e surpreendia-nos com sua capacidade formal para manter aceso o interesse do espectador mesmo que todos os lances da história fossem conhecidos. Em Cold mountain não se trata dum enredo conhecido em todos os seus dados, mas a previsibilidade cerca todos os fotogramas de que Minguella compõe seu épico.

A guerra civil americana sempre foi um tema caro aos projetos de Hollywood, de que E o vento levou (1939), de Victor Fleming, é o exemplar que passou com mais citação à posteridade. Minguella, diretor estilisticamente clássico, propõe sua visão sentimental e boa do universo desta guerra, os aspectos interioranos das personagens, a religiosidade e o patriotismo típicos, uma revolta antibélica do protagonista que não se concretiza plenamente; Cold mountain é produto da mente americana média, sem maiores inquietações ou profundidade histórica.

Para realizar bem seu trabalho, cumprindo com as exigências comerciais (que a certa altura se transformam em concessões de um artesão que gostaria de ser autor), Minguella capricha na escolha do elenco. A estrela central é Nicole Kidman, com seu erotismo ingênuo e sua voz gasosa; Kidman está em alta neste começo de temporada na cidade, pois foi vista em Dogville (2003), do dinamarquês Lars Von Trier, e em Revelações (2003), do norte-americano Robert Benton, produzindo desempenhos oscilantes. Jude Law não desmerece o herói (um Ulysses americano muito bravo) e Renée Zellweger interessa por conter um tipo interpretativo característico. A citar ainda as poucas porém marcantes aparições do veterano Donald Sutherland.

Outra curiosidade é a presença como produtor de Sydney Pollack, um realizador norte-americano padrão que teve seus momentos áureos nos anos 70.

Entre mortos e feridos, Cold mountain pode ser visto sem sustos. Mas é indelevelmente incapaz de permanecer na retina por algum tempo.