Crítica sobre o filme "Dogma do Amor":

Eron Duarte Fagundes
Dogma do Amor Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 07/05/2004

O dinamarquês Thomas Vinterberg impressionou com a crueza de um cinema feroz e sem concessões em Festa de família (1998), um dos filmes-marco do Dogma 95, movimento cinematográfico que buscava um realismo absoluto da encenação pela ausência de artifícios narrativos.

Agora, com Dogma do amor (It’s all about love; 2003) o realizador nórdico afasta-se da objetividade da escola a que seu nome estava ligado, percorrendo um caminho de obscuridade metafísica em que se cruzam influências do polonês Krysztof Kieslowski e de antigos filmes-pesadelo de outro polonês, Roman Polansky, para produzir uma narrativa confusa; em síntese, algo cheio de uma pretensão apocalíptica cujo resultado final é o vazio.

O que está em cena é a visão das transformações do planeta neste início de milênio: as nevascas mortíferas em Uganda, os inesperados ataques cardíacos em Nova York. Ligando os fios escuros da trama, um casal que está para se divorciar não se divorcia, pois voltam a entender-se; a personagem da mulher é o símbolo das metamorfoses planetárias ao multiplicar-se em vários e estranhos clones (nenhuma relação com o mal que se multiplica em Matrix revolutions, 2003, dos irmãos Andy e Larry Wachowski).

Se Vinterberg fosse um David Lynch, ele poderia alegar que o que importa em seu filme são certos estados de espírito e não uma lógica da história. Mas a confusão de Dogma do amor parece mais fruto da inabilidade do diretor para o projeto que se propôs, como ocorreu com James Mangold em Identidade (2003); é certo, porém, que Vinterberg tem mais atributos intelectuais que Mangold, embora nada seja suficiente para permitir ao espectador curtir com prazer sua realização.