Paul Greengrass é jornalista. E isto se evidencia na forma cinematográfica de seu filme Domingo sangrento (Bloody sunday; 2002), uma incisiva reportagem cinematográfica sobre um episódio histórico que já tem mais de trinta anos: em 30 de janeiro de 1972 soldados ingleses deslocados para conter uma marcha pacífica na Irlanda do Norte pelos direitos civis atiraram contra uma multidão desarmada matando treze pessoas; julgados depois pelos tribunais britânicos, os militares foram absolvidos sob argumentos irônicos e inconsistentes, uma decisão política.
A narrativa de Greengrass é objetiva, mas nunca superficializa a questão. Ao colocar-se ao lado dos irlandeses, não deixa de mostrar as inquietações humanas dos dominadores ingleses. As câmaras de Greengrass agem como olhos que se movimentam: nunca estão paradas, adotam uma instabilidade visual que dá uma espécie de soco na objetividade fílmica, impedindo aquela linearidade mais hollywoodiana. Estes aspectos, às vezes dotados de um certo maneirismo britânico, só atingem seu real sentido graças à veracidade das colocações do cineasta ao longo de sua realização.
Com um lentidão detalhista de repórter, Greengrass esmiúça os movimentos daquele dia fatídico de janeiro de 1972, para expor no final como aquela violência inusitada gerou a violência dos anos seguintes, mostrando a incorporação no IRA de muitos jovens indignados com a prepotência inglesa. Aquela opção pela paz da marcha foi destruída pelo gesto bárbaro dos civilizados ingleses.