Crítica sobre o filme "Em Nome de Deus":

Eron Duarte Fagundes
Em Nome de Deus Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 13/07/2004

Em nome de Deus (The Magdalene sisters; 2002), filme dirigido pelo irlandês Peter Mullan, é bastante objetivo em seu ataque à perversidade da repressão religiosa existente em alguns conventos britânicos dos anos 60 para onde algumas moças tidas por imorais são levadas para se reeducarem e passam a sofrer todo tipo de tortura. A crítica social direta evoca uma forma de fazer cinema que a ambigüidade narrativa de hoje cujo sentido de espetáculo oculta, destruiu ao longo dos anos; o possível anacronismo da realização de Mullan é bem-vindo, pois nos põe diante dos olhos a textura analítica de cineastas que fizeram sua glória nos anos 60 e 70, como o grego Constantin Costa-Gavras e o italiano Francesco Rosi.

Além de sua irreverência e ausência de concessões, o belo filme de Mullan presta nostálgica homenagem ao próprio cinema, quando as más freiras exibem para as garotas Os sinos de Santa Maria (1945), de Leo McCarey, onde o cinéfilo pode desfrutar por alguns breves primeiros planos do esplendor de rosto e voz de Ingrid Bergman, a grande atriz sueca.

Sem ser uma obra tão rude e perversa quanto Dogville (2003), do dinamarquês Lars Von Trier, o trabalho de Mullan é suficientemente forte para interessar o espectador que quer questionar o sistema desumano de certas relações humanas.