Crítica sobre o filme "Encontros e Desencontros":

Rubens Ewald Filho
Encontros e Desencontros Por Rubens Ewald Filho
| Data: 11/09/2004

Estão exagerando de novo. Não é para tudo isso. A filha de Francis Coppola, Sofia já tinha demonstrado talento antes na estréia no bonito e triste As Virgens Suicidas (que em certo sentido é melhor que este filme). Mas agora resolveram consagrá-la exageradamente por esta fitinha que nada mais é do que uma brincadeira, quase uma vingança dela contra o marido Spike Jonze (eles acabaram de se separar, e está evidente que o papel da esposa que acompanha o marido ao Japão é autobiográfico, no filme é um fotógrafo e feito por Giovanni Ribisi).

Para mim, que já visitei o Japão, o filme é cheio de referências e semelhanças (fiz muita coisa parecida com os personagens, como ver TV, nadar na piscina, passear naquelas mesmas ruas e templos). Não é uma sátira como muita gente pensou, é assim mesmo como Sofia mostra.

A única razão de ser da fita é a presença do comediante Bill Murray, que está muito magro, muito seco e se limita a reagir. Ele não age, reage ("doesn’t act, reacts", seria em inglês para ficar mais claro). Ou seja, faz o mínimo possível, nem caretas. Nem é preciso, já está tudo em sua personagem.

É um alter-ego dele, um astro de cinema já meio decadente que aceita ganhar dois milhões de dólares para ir gravar no Japão um comercial de uísque (o absurdo é que, ninguém como ele, viaja sozinho, sem um assistente ou agente, isso simplesmente não existe. Até eu coitado, quando faço algo comercial, viajo com agente, imagine ganhando dois milhões). Mas a fita não quer ser realista, é apenas uma fantasia leve sobre o astro de cinema que, no hotel, conhece a jovem esposa desprezada do fotógrafo (outra figura superestimada, a razoável Scarlett Johansson, que não tem nem personagem para ganhar prêmio). Os dois flertam, ficam amigos, passeiam pela cidade, mas não fazem nada radical, na verdade mal se conversam. O que é mostrado de forma despretensiosa. Quem inventou a mentira da fita não foi Sofia, foi a crítica maluca que teve mais uma alucinação coletiva. Uma fitinha pequena e simpática que não tem que dar prêmio para ninguém. Ainda que Murray esteja irresistivelmente engraçado (mesmo assim em alguns poucos momentos, porque no todo o filme é bem chatinho).