Crítica sobre o DVD "Especial" do filme "Exterminador do Futuro 2, O: O Julgamento Final":

Jorge Saldanha
Exterminador do Futuro 2, O: O Julgamento Final Por Jorge Saldanha
| Data: 03/09/2004

Ao contrário do DVD do filme original, que recebeu uma edição nacional primorosa e completa da Fox/MGM, com dois discos, a sorte de O Exterminador do Futuro 2 em DVD no Brasil não é das melhores. Em 2000 a Columbia lançou por aqui uma edição anêmica que nem trailer tinha, cujo maior mérito era a faixa de áudio em inglês Dolby Digital 5.1 do filme. Já lá no distante Primeiro Mundo a coisa era bem diferente. T2 já havia saído nos EUA em DVD em 1999, pela Artisan, como o primeiro de dupla camada lançado no mercado. Esta versão, sem qualquer extra, vídeo em letterbox e som DD 5.1, foi a base para a versão que a Columbia lançou aqui. Em 2001 a Artisan lançou nos EUA a edição Ultimate, um DVD-18 (de dupla camada nas duas faces) contendo três versões do filme: a original de 137 minutos, a versão estendida de 153 minutos e outra, de 156 minutos, escondida como easter egg. O vídeo é widescreen 2.35:1 Anamórfico, e o áudio em inglês, Dolby Digital 5.1 EX e DTS ES. Nos extras, podemos selecionar o comentário de nada menos do que 26 pessoas do elenco, ler o roteiro completo, ver 700 storyboards, assistir a 3 documentários - "The Making Of T2" (o mesmo incluído nesta edição da Universal), "T2: More Than Meets The Eye" e "T2: 3D: Breaking The Screen Barrier", além de duas cenas eliminadas e trailers. Esta edição Ultimate também foi lançada na Europa (pela Studio Canal), em três discos PAL. O conteúdo é idêntico à edição norte-americana, havendo somente redução na duração das versões do filme, já que no sistema PAL o filme passa a 25 fps (frames per second, ou quadros por segundo), enquanto o NTSC, que utiliza 30 fps, através de uma duplicação de frames acaba por equivaler aos 24 quadros por segundo do cinema. Na Austrália, que também é Região 4 (e utiliza o mesmo sistema PAL), esta versão foi lançada pela Universal contendo apenas a versão estendida do filme. Posteriormente, em 2003, a Artisan lançou nos EUA a edição Extreme de T2, com dois discos contendo a versão de cinema e a estendida, novos extras e uma versão do filme em alta definição, que só pode ser assistida em computadores de última geração. O áudio é DD 5.1 EX.

Bom, tive de escrever tudo isso para, finalmente, chegar a esta “edição especial” que a Universal lançou agora no Brasil. Que, se considerada isoladamente e em função do preço de lançamento (R$ 29,90), é uma opção atraente para os fãs do filme. Contudo, se comparada com as edições primorosas disponíveis lá fora, e considerando algumas características no mínimo estranhas deste lançamento, a coisa muda de figura. A capa do DVD é praticamente a mesma do antigo DVD da Columbia, distinguindo-se dele principalmente pelos dizeres “2 Discos Edição Especial”. Os menus animados, retirados da edição Ultimate, são promissores. Mas o estranho, para não dizer bizarro, começa quando entramos no menu de seleção de idiomas. Talvez para facilitar a vida dos neófitos em DVD, a Universal unificou a configuração de áudio/legendas em três opções: Inglês (DD 5.1) com legendas em português, Inglês (DD 5.1) com legendas em espanhol, e português sem legendas (é uma nova dublagem em DD 5.1). Como não é possível alterar áudio ou legendas durante o filme, via controle remoto, quem por acaso quiser assistir ao filme no idioma original, sem legenda alguma, não poderá fazê-lo. Para assistir ao filme sem legendas, só optando pelo áudio em português! Antes de prosseguir, gostaria de registrar que, como seria de se esperar, o áudio DD 5.1 de T2 é excelente. Foi o primeiro filme que teve uma trilha de áudio inteiramente gravada digitalmente, e a força de seus graves ainda surpreende. Agora, porque o áudio não é DD 5.1 EX, como nos equivalentes do exterior? E o áudio DTS?

Continuando: o disco 1 contém apenas a versão já exibida nos cinemas, que corresponde à de 137 minutos da edição Ultimate. Detalhe: no DVD nacional o filme tem apenas 131 minutos de duração, sem que tenha sido eliminada qualquer cena. Como isso é possível? Bom, aqui temos outra característica bizarra, detectada pela primeira vez pelo leitor “Percebe”, no fórum do DVD Magazine no Orkut: o DVD nacional, que como os demais lançados por aqui é NTSC por padrão, possui uma versão do filme que tem a mesma duração da versão standard lançada na Europa, em PAL. A única explicação possível para isso é que a Universal utilizou uma master PAL (provavelmente extraída do Ultimate europeu), e quando da reconversão para NTSC o tempo de duração de 131 minutos, obviamente, não voltou aos 137 minutos normais. O resultado prático disso na tela, em termos de aceleração, é quase imperceptível: a maior parte dos espectadores apenas notaria o aumento de frames por segundo se, ao lado, estivesse assistindo também à versão NTSC, que terminaria seis minutos após a versão PAL. Mas por outro lado, em termos de qualidade do vídeo, receio que tenha havido outros prejuízos.A imagem desta transferência, para mim, é um pouco embaçada, e as cores me parecem um tanto esmaecidas - e isso, desconfio seriamente, é decorrente dessa conversão/reconversão de sistemas PAL e NTSC.

Ao final, só posso concluir que a Universal perdeu uma grande chance de lançar uma edição decente de T2 no Brasil. Porque não utilizou na íntegra uma das versões Ultimate lançadas na Europa e na Austrália? Simplesmente porque o DVD nacional teria de ser barato? Mesmo que esse fosse o caso, quero lembrar que a Buena Vista lançou aqui, pelos mesmos R$ 29,90, um DVD duplo de Piratas do Caribe superior a este T2 em todos os aspectos - som, imagem e abundantes extras. É lamentável que uma distribuidora que começou suas atividades no Brasil com lançamentos exemplares esteja comprometendo sua imagem (desculpem o trocadilho...) com uma série de DVDs desleixados da Studio Canal.