Crítica sobre o filme "Grito, O":

Rubens Ewald Filho
Grito, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 12/04/2005

Antes de tudo, é preciso que você goste do gênero terror. Faz parte de uma nova moda americana, que é refilmar sucessos asiáticos, no caso um filme japonês Ju-On, com alguns diferenciais: 1º) Foi produzido pelo competente Sam Raimi, diretor de O Homem Aranha. 2º) Quem fez a refilmagem foi o próprio criador da série, o japonês Takashi Shimizu (que teve a chance de rodar no próprio Japão, com elenco internacional, mas conservando os atores que criaram os personagens dos fantasmas, a mulher e o menino). Há uma certa semelhança com outro filme da mesma origem, o também bem sucedido, Ringu - O Chamado. É curioso como o Oriente conseguiu acrescentar novas propostas a um gênero já desgastado. Como aqui, onde os fantasmas têm existência tri-dimensional, quase agem como pessoas comuns (e matam estranhamente as pessoas de susto).

Com orçamento de apenas 10 milhões de dólares, o filme já rendeu mais de 110 milhões apenas nos EUA, se tornando um dos maiores fenômenos de 2004. E já com continuação garantida. É tão bom assim? Se você gosta de levar sustos no cinema, o filme tem vários. É sempre inquietante e curioso. Deixa algumas coisas no ar, talvez por sua origem (começou como dois pequenos curtas, para saírem em celulares! Depois teve duas versões japonesas, ou seja, é a quinta vez que o diretor Takashi mexe nos personagens). Acertaram na escolha da heroína com Sarah Michelle Gellar que tem tradição no gênero (afinal foi a Buffy, a Caça Vampiros da TV e aparece desglamourizada, quase sem maquiagem, em ângulos nem sempre fotogênicos), assim como o galã Jason Behr (do seriado Roswell, mas que tem muito pouco a fazer).

Rodado em Tóquio, alternando as línguas e elencos, o filme mostra uma americana morando na cidade e servindo de assistente social. Vai cuidar de uma velha doente quando encontra uma casa mal-assombrada. Explica o filme: no Japão quando alguém morre com uma grande mágoa ou rancor, esse sentimento vira maldição e empesteia o lugar, provocando tragédias (algumas já acontecem nos letreiros, onde Bill Pullman se joga de um terraço). Ou seja, é basicamente uma variação no velho esquema da casa maldita. Mas o diretor narra a fita de forma original, entremeado flashbacks (sem explicações) e cortando sempre para fade-outs. (escurecimentos em negros, que serve também para reduzir a violência já que a fita foi PG-13 nos EUA). Na verdade, o titulo nacional é enganoso. Não há gritos (o menino fantasma, solta frases e ruídos sem nexo, não propriamente gritos). Um título mais correto seria O Rancor ou A Mágoa. De qualquer forma, o filme é bastante ousado na utilização de recursos narrativos (a heroína contracena no presente com fatos do passado), de tal modo que alguns o acharão confuso e de difícil compreensão (o original japonês, ainda inédito aqui, dizem ser semelhante, mas muito mais atrevido). Mas os fãs de terror devem adorá-lo.