O realizador cinematográfico norte-americano King Vidor não tem qualquer parentesco artístico com o escritor russo Leon Tolstoi. E a existência do cineasta no mundo do cinema difere da maneira como Tolstoi se relaciona com a literatura.
Talvez o filme mais famoso (seu clássico, digamos assim, já que clássico em cinema não quer dizer necessariamente excelência) é a adaptação que ele fez da obra-prima de Tolstoi, Guerra e Paz, filme de 1956. Inevitavelmente a realização oferece ao observador as diversas colocações que aproximam e afastam cinema e literatura, e este comentário não foge a estas discussões.
Vidor cerca-se duma equipe de respeito. O guarda-roupa de época é um dos mais deslumbrantes da história do cinema. O fotógrafo Jack Cardiff apaixona pelos detalhes pictóricos. O elenco exubera: Audrey Hepburn, cuja beleza é captada em alguns antológicos primeiros planos; Mel Ferrer, Henry Fonda. Vidor filma com volúpia; suas seqüências de dança extasiam, mas não têm a profundidade de Luchino Visconti.
Em que Vidor é inferior a Tolstoi? A habitual capacidade de reflexão de Tolstoi e a acuidade psicológica não existem no filme; o barroquismo das cenas de batalha e o melodrama hollywoodiano concentram o interesse deste filme, um belo espetáculo, mas aquém do que gostariam de admitir seus admiradores