Crítica sobre o filme "50%":

Wally Soares
50% Por Wally Soares
| Data: 27/02/2012

Cair no sentimentalismo é rota de fuga para filmes que tratam sobre doenças terminais - quando o foco deveria ser, na verdade, o doente terminal. Alias, melhor: sobre a pessoa antes da doença e, se for o caso, após. Com exceção de filmes como O Óleo de Lorenzo, cujo enredo vai além do drama do personagem para construir um contexto acerca de sua doença, deve-se existir um ponto de partida e um destino nesse tipo de filme que seja o próprio personagem principal. 50%, que foi baseado em uma história real, é um filme forte por nunca usar o sentimentalismo como compensação e por sempre se conduzir pelas idiossincrasias de Adam e das pessoas a sua volta – a doença é apenas o conflito.

O roteiro de Will Reiser narra as atribulações enfrentadas por Adam, um jovem de 27 anos que descobre ter câncer apesar de sempre ter levado uma vida contida. Sua recém-descoberta doença traz a tona conflitos que vão desde sua namorada até sua terapeuta – testando inclusive seu relacionamento com o melhor amigo e com sua própria família. É aquela velha espinha dorsal desse subgênero. A doença como catalisador de dilemas que abrangem os relacionamentos do “doente”. Não tem muito como fugir dessa estrutura – mas tem como pintar nuances nos dramas previsíveis e entregar humor em circunstâncias inusitadas. Algo que 50% faz muito bem.

Reiser acerta no timing cômico e se esquiva do melodrama até o último momento – e, mesmo quando chega lá, se revela econômico e equilibrado. O equilíbrio, alias, é substancial. 50/50 são as chances de sobrevivência que Adam ganha e o filme se carrega nesses 50% de chance de forma a transitar entre a comédia e o drama. Apesar do carisma vencedor de Joseph Gordon-Levitt, o fator cômico fica por conta de Seth Rogen (que, curiosamente, está a interpretar a si mesmo, já que foi de fato o melhor amigo do personagem no qual o filme é baseado). Rogen é exacerbado e nem sempre se apresenta de bom gosto, mas os improvisos funcionam e o roteiro em mãos evita que seu personagem roube o filme de sua sutileza.

O diretor, Jonathan Levine, oferece a fluidez idílica. Acerta na simplicidade e sabe conduzir a favor de seus atores (todos excelentes aqui). Entrega o tom melancólico/agridoce a partir de uma trilha sonora formidável (os créditos trazem consigo “Yellow Ledbetter” do Pearl Jam, se certificando que você termine o filme emocionado). 50% é esse filme ora doce, ora triste, sempre interessante. Levitt domina o personagem na mesma medida que o roteirista domina seu drama. É um longa-metragem construído em cima de notável equilíbrio de gêneros e fortalecido pela grande sensibilidade (sem sentimentalismos). O previsível abre lugar para o omisso – e é empolgante quando a subtrama romântica do filme não termina com o beijo obrigatório. Levine e Reiser não estão tão interessados no meigo e no piegas que sempre pode ser descoberto nessas histórias; a ternura é substituída pela idiossincrasia. E o subjetivo sempre é mais memorável.