Afinal, nem tudo foi mediocridade e melodrama na fase mexicana do realizador espanhol Luis Buñuel. A ilusão viaja de trem (La ilusión viaja em tranvia; 1953) é uma pequena mas significativa amostra do frescor narrativo do cineasta, do desabusado humor surrealista de que ele se vale para pensar o cotidiano do homem contemporâneo. A naturalidade com que Buñuel coloca em imagens um mundo fantasioso está bem presente nesta trajetória de dois amigos que, embriagados, seqüestram um bonde na intenção de devolvê-lo à garagem ao amanhecer, mas por estranhas complicações, só o conseguem à noitinha, enfrentando mil perigos, inclusive de um delator, que deseja a todo o custo entregá-los à companhia. Além dos dois protagonistas, há em cena uma bela mulher, que é irmã de um e pretendida (embora resista até quase o final aos galanteios) por outro.