Crítica sobre o filme "Lawrence da Arábia":

Eron Duarte Fagundes
Lawrence da Arábia Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 25/06/2001

Os pudores clássicos da linguagem cinematográfica do realizador inglês David Lean podem ser apreciados em seu esplendor em Lawrence da Arábia (Lawrence of Arábia; 1962); uma longa e vagarosa incursão do cineasta pela trajetória do oficial britânico T.E. Lawrence, que se envolveu na luta colonialista em sua abordagem do Terceiro Mundo, o filme de Lean mostra sua grande plasticidade na classe com o diretor se vale dos planos gerais muito abertos (que em na tela pequena perdem um pouco de seu significado) e duma fotografia que vai à raiz da luz do deserto árabe. Não menos extraordinário e arrebatador é o desempenho de Peter O´Toole na pele de Lawrence, logrando adaptar-se com perfeição ao vago mistério que as imagens da obra de Lean buscam captar pela lente da câmara. Particularmente sensível e característico deste desempenho é a cena em que um oficial faz a Lawrence prisioneiro por confundi-lo com um árabe em face das vestes, tenta seduzi-lo para o homossexualismo fascinado por sua pele branca, recebe a brusca recusa e manda açoitá-lo. Uma das complexidades da personalidade do protagonista é que, apesar da humildade e da brandura iniciais de seu caráter, o homem vem a tornar-se prazeroso com a crueldade ao correr da narrativa; mata um homem a tiros para evitar briga de tribos e vê a um árabe afogar-se no pântano, sentindo com isto uma satisfação que a câmara apanha com intensidade.

No início do filme um travelling mostra Lawrence andando de motocicleta, até o momento em que sofre o acidente e morre. Na imagem final, Lawrence está sendo conduzido de volta a casa. Lawrence da Arábia é o relato duma vida poderosa e enigmática em fotogramas não menos poderosos e enigmáticos.

O diretor, David Lean, faleceu em 1991; seu derradeiro filme, Passagem para a Índia (1984), extraído da literatura do ficcionista inglês Edward Morgan Forster, foi igualmente uma obra-prima.