Crítica sobre o filme "Marcelino, Pão e Vinho":

Eron Duarte Fagundes
Marcelino, Pão e Vinho Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 08/12/2004

Diante de um filme como Marcelino, pão e vinho (Marcelino, pan y vino; 1954), rodado na Espanha pelo diretor húngaro Ladislao Vajda, cabe ao observador questionar por que um filme tão datado e tão sem aparentes atrativos foi capaz de sobreviver aos anos e interessar uma fatia expressiva de público em várias gerações. Não interessa saber se Vajda é um diretor ruim, se a trama é ingênua e se o atorzinho infantil é uma pobre estrelinha; a realização evidentemente tem os ingredientes do cinema comercial capaz de emocionar o espectador comum e tem algo mais, este coeficiente de indefinível que faz com que ainda hoje se assista ao filme sem o ranço de coisa completamente envelhecida, como costuma acontecer muitas vezes com obras que encantaram os críticos em determinada época.

De fato: Marcelino, pão e vinho é uma película de propaganda católica, sua pieguice incomoda qualquer pessoa que jogue sobre a projeção um mínimo de senso reflexivo. Mas inegavelmente é bem feito e cumpre com competência sua função de divertir seu público informando-o daquilo que convém, a importância da fé. É claro que estamos longe de Milagre em Milão (1950), do italiano Vittorio De Sica, onde um órfão enfrentaria as misérias da cidade com sua garra; o órfão de Vajda é de outro naipe, sua fantasia é superficial, desprovida duma sensibilidade mais apurada: mas a platéia vai com sua cara.

Entre os interesses do filme, a presença do grande ator espanhol Fernando Rey (visto em obras-primas como Elisa, vida minha, 1977, do espanhol Carlos Saura, e Esse obscuro objeto de desejo, 1977, do também espanhol Luis Buñuel) como frade franciscano é de realçar. No mais, Marcelino, pão e vinho é a única obra de Vajda que atravessou as décadas, bem ou mal.