Crítica sobre o filme "Minha Vida de Cachorro":

Eron Duarte Fagundes
Minha Vida de Cachorro Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 31/03/2004

A fria e distante narrativa visual sueca a serviço da sensibilidade duma evocação de infância dum garoto de interior que descobre o mundo, em meio a pequenas alegrias e contidos desapontamentos; não há no filme grandes lances dramáticos ou arroubos estilísticos, pois mesmo os momentos que poderiam render cenas mais piegas ou melodramáticas (a mãe do garoto doente no hospital é visitada por ele e seu irmão) são mostradas pelo cineasta com pudor emocional. Um tema difícil, porque tantas vezes visto no cinema – o das lembranças de meninice, em tom de fábula realista—é um desafio de que o realizador Lasse Hallström se sai bem em Minha vida de cachorro (1985), seu primeiro sucesso internacional; a narrativa na primeira pessoa pelo garoto e sua constante evocação da cadela Laika que se perdeu no espaço num Sputnik russo conferem à fita uma aproximação sentimental que é negada pelo estilo de filmar e pela essência narrativa do diretor sueco. A doença da mãe (a quem os garotos muito incomodam no começo do filme), o estágio do protagonista na casa dos tios jovens e sem filhos (onde ele vem a manter uma estreita amizade com uma garota que se parece com um menino – gosta de jogar futebol e de boxe, além duma aparência física masculinizada— e descobre o corpo de mulher ao espiar uma amiga bem mais velha que serve de modelo a um escultor de mulheres nuas), a morte da mãe, a volta à casa dos tios. Uma lembrança cinematográfica cheia de sinceridade, sem grandes vôos, mas bonita, onde a qualidade da narrativa sueca pode ser bem apreciada e a capacidade dos diretores suecos para impor-se a seus atores está no conjunto interpretativo, assim como no desempenho do pequeno protagonista.