Crítica sobre o filme "Mulher-Gato":

Rubens Ewald Filho
Mulher-Gato Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/04/2005

Pois é. Falaram tanto que acabei não achando tão ruim assim. Quase todas as objeções são verdadeiras: Halle Berry é frágil demais para feitos atléticos (mas ninguém reclamou quando esteve em James Bond!). Sua roupa realmente parece um delírio sadomasoquista de um figurinista mal intencionado. Mas o que me incomoda mesmo é que o filme foi transformado quase que numa animação, num desenho animado digital (todos os exteriores são visivelmente feitos em computador e nem tentam disfarçar como em Homem Aranha, que é uma figura animada que está pulando nos muros - aquele andar final dela então não podia ser mais falso). Por outro lado, foi justamente essa a proposta do diretor francês que se assina Pitof (Jean-Christophe Comar) e que havia feito antes um curioso Vidocq com Gerard Depardieu. É para ser estilizado mesmo, delirante, nada realista.

Talvez as anteriores mulheres gatos da teve ou mesmo Michelle Pfeiffer estivessem dentro de um contexto Batman (que não é mencionado aqui, ao contrario há a preocupação de se criar uma nova mitologia), o que tornava mais fácil aceitá-las. Halle não convence como a desenhista gráfica que é tão tímida (e mal-vestida!) que não consegue entregar a tempo um trabalho (embora a melhor amiga passe o filme todo encorajando-a e dizendo que ela é talentosa). Aliás faz tudo errado, até mesmo acaba morrendo quando vai espionar sem querer a fabrica e fica sabendo que o creme que irão lançar deixaram as mulheres de rosto deformado e marcado para sempre. Só que ressuscita através de um gato egípcio mágico que a transforma justamente na Mulher Gato, louca por sardinha e capaz de pular telhados. Para complicar ela está sendo paquerada por um policial (Benjamin Bratt, que ficou famoso por namorar Julia Roberts, mas é fraco como tipo e ator e não tem qualquer química com Halle). É importante também, a presença dos bandidos, nem tanto o francês Lambert Wilson que mal aparece, mas Sharon Stone, que com o tempo foi ficando uma atriz falsa e auto-suficiente, sem qualquer verdade, e com pouco timing de comédia. Nem consegue marcar como a pérfida vilã, dona da fábrica de cosméticos, que aproveita para se vingar do marido infiel acusando a Mulher Gato (aliás, esta vive penetrando nas casas e procurando se vingar de uma maneira bastante discutível). Por outro lado, Sharon e Halle, aliás, todo o elenco e filme, sofrem um banho digital que lhe tira marcas e rugas, dando-lhes aquele tom artificial que o diretor procurava. Mas A Mulher Gato é divertido de assistir? Pouco. Principalmente porque as cenas de ação são ruins. Mal se consegue enxergar alguma coisa (culpa do CGI), tudo é acelerado, inconvincente, borrado demais. Se não acerta como ação, nem como erotismo, talvez consiga atingir os mais jovens. De fato, achei menos ruim do que se previa.