Werner Herzog prestou homenagem a um de seus mestres em Nosferatu, o vampiro da noite (Nosferatu Phantom der Nacht; 1978). O filme de Herzog é uma visita ao mundo tétrico e amaldiçoado que outro alemão, F.W. Murnau, descreveu em Nosferatu, uma sinfonia de horror (1922). Mas uma refilmagem de Herzog não é bem uma refilmagem: é sempre uma visão pessoal de um universo inventado inicialmente por outro.
No Nosferatu de Herzog a simbologia mental do cineasta de Aguirre, a cólera dos deuses (1972) exercita sua capacidade hipnótica na edificação de cenários e na captação de cores intensamente sombrias. Herzog dá a seu vampiro as características tortuosas e torturadas de todas as suas personagens, Aguirre, Kasper Hauser, o profeta Hias de Coração de cristal (1976). A solidão de Nosferatu é a mesma e amarga de Aguirre no fim do filme que ele conduz com tanta energia quanta loucura. A criatura de Lucy, vivida com desleixo e frieza pela francesa Isabelle Adjani, que foi musa do cineasta François Truffaut, apresenta certas conciliações que habitualmente as obras de Herzog negam ao inferno em que navegam seus seres. Klaus Kinski tem contra si o desempenho antológico de Max Schreck na fita de Murnau; mas Herzog sabe conduzir este “seu melhor inimigo” a uma estampa cinematográfica sempre impositiva.
Ainda que não esteja entre os trabalhos mais estimados de Herzog, Nosferatu, o vampiro da noite guarda um fascínio característico do diretor.