Crítica sobre o filme "Ontem, Hoje e Amanhã":

Eron Duarte Fagundes
Ontem, Hoje e Amanhã Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 05/01/2004

Ao unir-se ao teórico e roteirista Cesare Zavattini, o ator e realizador italiano Vittorio De Sica rodou consecutivamente quatro dos mais belos filmes já feitos: Vítimas da tormenta (1946), Ladrões de bicicleta (1948), Milagre em Milão (1950) e Umberto D. (1951). O restante de sua obra parece estar bastante abaixo do nível destes trabalhos; o que De Sica fez depois parece às vezes um desesperado esforço para recuperar o fracasso financeiro de suas realizações neo-realistas.

Ao vermos Ontem, hoje e amanhã (Ieri, oggi e domani; 1963), a impressão de concessão comercial não se dissolve. Quem foi capaz daquele acordar rigorosamente cotidiano da jovem Maria em Umberto D., uma seqüência primorosa de cinema verdadeiro, busca em Ontem, hoje e amanhã uma crônica suave de algumas vidas italianas; é claro que o toque realista de Zavattinie De Sica aqui e ali sobrevêm, mas tudo é muito superficial e agilmente comercial na comicidade de costumes tão localizadamente peninsular e hoje um pouco envelhecida em sua capacidade de comunicação com o público.

O filme se estrutura numa narrativa em episódios, tão ao gosto dos cômicos cinematográficos italianos dos anos 60 e 70. São três histórias em que a atriz Sophia Loren desfila seu brilho e sua versatilidade: uma dona-de-casa cheia de filhos que se desdobra para sustentar as crianças e a seu marido desempregado, uma mulher refinada que não logra seduzir um homem com quem vagad ce carro pelas estradas, uma prostituta que finalmente topa o amor de sua vida. Mesmo que Sophia esteja deslumbrante como estrela, falta a estas personagens a profundidade e a verdade dos grandes momentos de De Sica. O grande ator Marcello Mastroianni é o parceiro ideal de Sophia; é uma das muitas aparições conjuntas de Sophia e Marcello como protagonistas de filmes, tendo ambos atingido o clímax em Um dia muito especial (1977), de Ettore Scola.

Sem embargo de todas as ressalvas, um De Sica sempre vale a pena conhecer ou rever.