Crítica sobre o filme "Pantaleão e as Visitadoras":

Eron Duarte Fagundes
Pantaleão e as Visitadoras Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 06/04/2004

Francisco Lombardi é o nome mais conhecido do cinema peruano, um cinema praticamente ignorado nestas plagas que são na verdade quintais de Hollywood. O escritor Mario Vargas Llosa é o único nome internacional da literatura praticada no Peru. Herdeiro do romancista francês Gustave Flaubert, a quem dedicou um ensaio primoroso, Vargas Llosa fez de seu romance Pantaleão e as visitadoras (1973) um de seus textos mais divertidos e narrativamente ágeis, embora estivesse longe de suas obras mais revolucionárias.

Lombardi, ao filmar Pantaleão e as visitadoras (1999), ignorou os recursos narrativos múltiplos e modernos de Llosa (cartas, relatórios, depoimentos, diálogos –que substituíam a narrativa habitual, em terceira pessoa), preferindo a emoção mais direta, brilhando na direção de atores (as caracterizações são notáveis –desde a postura militar do ator Salvador del Solar como Pantaleão até o realce sensual de Angie Cepeda no papel da prostituta Olga, passando pela figura escrachada do radialista com um dente enxertado visto em alguns irônicos primeiros planos).

A narrativa de Llosa é mais tentacular e complexa e exige do leitor uma atenção mais vigilante para acompanhar a história do romance. Lombardi, cineasta de olho num público maior (apesar das dificuldades de distribuição do cinema latino-americano), vai direto à emoção e à sensualidade de seu roteiro. De qualquer maneira, a aventura amazônico-peruana do disciplinado Pantaleão mantém sua inquieta visão no filme de Lombardi. A morte da meretriz Olga, cujo relacionamento com o protagonista chega a desestruturar o caráter rígido da personagem masculina e desalicerçar um casamento, é um ponto de belo melodrama com latinidade.