Crítica sobre o filme "Peter Pan":

Eron Duarte Fagundes
Peter Pan Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 26/06/2004

Crescer é um saco, vamos concordar com Peter Pan, a personagem duma história infantil escrita no início do século XX pelo escocês J.M. Barrie e que, na era de Freud, tem servido para evidentes interpretações psicanalíticas. É claro que uma história há tanto tempo contada e revisitada não pode mesmo apresentar novidades: Pan é o garoto que se recusa a crescer e ter responsabilidades, permanecendo em seu mundo de fantasia e aventuras ingênuas, adorado pela fada Sininho; seu encontro com a maternal Wendy é marcado pela melancólica possibilidade duma relação amorosa em virtude desta recusa.

O australiano P.J. Hogan, ao rodar seu Peter Pan (2003), estava consciente destas limitações e expôs todo o seu esforço nos requintes de produção para dar uma roupagem contemporânea a um enredo que já preencheu e encheu as mentes de todas as pessoas que um dia tiveram infância. O saco é que crescemos, e as facilidades emotivas de um filme alado como este incomodam aqui e ali a quem se dispõe a pôr o raciocínio em marcha; mas é possível, numa leitura mais descontraída, ver a realização de Hogan com os olhos de sua personagem, Peter Pan, os olhos de quem se recusa a crescer e tornar complexo seus pensamentos.

É claro que Peter Pan não chega a ser uma obra satisfatória, apesar de seus caprichos formais. Mas é bem mais interessante que os Harry Potter e os senhores de anéis que atualmente invadem as fantasias das telas. Hogan é menos ambicioso e por isso muito mais sincero.