Crítica sobre o filme "Peter Pan":

Rubens Ewald Filho
Peter Pan Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/09/2004

Não há duvidas de que o antigo desenho da Disney ainda é a melhor adaptação para o cinema desta obra clássica de James Barrie. Mas este novo Peter Pan não chega a fazer feio. Não foi bem nos EUA apenas por uma questão de público-alvo. Em vez de fazerem um filme para crianças, tentaram puxar um pouco a idade para cima, para atrair pré-adolescentes, num estilo meio Harry Potter e a Pedra Filosofal. Ou seja, o filme foi de certa maneira sensualizado (agora há uma visível história de amor entre Peter e Wendy), o que afastou as crianças menores (ou seus puritanos pais norte-americanos). E quem disse que adolescentes (que gostam de se sentir adultos) irão ver uma história tão infantil? Pois esse é o dilema desta produção assinada por Mohamed El Fayed (dono da Harrod´s) e dedicada a seu filho Dodi, que morreu junto com a princesa Diana. Quem a realizou foi o australiano P.J. Hogan (O Casamento de Muriel e O Casamento do Meu Melhor Amigo), com a ajuda de sua mulher produtora Jocelyn Moorhouse.

Resta-lhe o mérito de ter acertado mais do que Steven Spielberg quando lidou com o mesmo material (em Hook: A Volta do Capitão Gancho, talvez o pior filme do diretor) e não ter incluído felizmente na fita Michael Jackson (que é confesso fã do personagem). Não sei se por isso, mas fiquei o filme todo com a impressão que existia no ar um clima de pedofilia e também de podofilia (porque há na fita grande quantidade de pés e sujos!). De qualquer forma, fiquei com um certo mal-estar.

Feito com cores brilhantes e efeitos assumidos (como um Mary Poppins atualizado), o filme conta a história da maneira tradicional, inclusive usando aquele recurso vindo do teatro de que o ator que faz o papel do pai (Jason Isaacs) é o mesmo que faz o vilão Capitão Gancho, o que dá dimensões freudianas a sua interpretação. Ele é muito tímido e desengonçado como pai, e típico vilão como o pirata, mas sem caricatura. Seu inimigo crocodilo é em computação gráfica.

Fora disso, pouca coisa muda. Há o flerte entre o casal, ambos interpretados por crianças atraentes. O menino Jeremy Sumpter é um americano de cara gaiata (no palco em geral o papel é sempre feito por mulheres mais velhas) e a garota é Rachel Hurd-Wood, uma mistura de Rosanna Arquette com Gene Tierney. Saffron Burrows é a narradora. Lynn Redgrave faz uma tia, Olivia Williams é a mãe. Tudo dentro do padrão de qualidade britânico.

Também a direção de arte é estilizada mas impecável. Ou seja, um filme bonito de se ver, que se assiste sem problemas, até porque a história é clássica e nunca envelhece (ao contrário, cada vez os homens parecem sofrer mais da Síndrome de Peter Pan, ou seja, não querem envelhecer).