A LENTIDÃO DO CINEMA EUROPEU DOS ANOS 60 – Por uns dólares a mais (Per qualche dollaro in più, 1965); rodado na Cinecitá pelo italiano Sergio Leone, é um faroeste inusitado. Alcunhado de spaghetti-western, o filme de Leone é uma corruptela deste gênero cinematográfico tão caro a Hollywood: seu tom de paródia permite a Leone uma elaboração pessoal dentro de seu estilo lento e contemplativo de filmar.
Leone é um autêntico realizador dos anos 60, em que a lentidão narrativa do cinema (marcadamente do cinema europeu) era exacerbadamente procurada. Mesmo voltado para um filme de ação, em que as personagens têm de ser rápidas no gatilho, Leone esticava o tempo da ação, à maneira do italiano Michelangelo Antonioni, criando, com o auxílio da música na faixa sonora, um clima operístico bastante estranho e produzindo um inesperado senso plástico nas imagens.
A verdade é que o inaudito esforço estilístico de Por uns dólares a mais está a serviço de nada. O vazio formalista desta realização de Leone é evidente. Um clássico de mentirinha, tão ingênuo em sua proposta quanto superficial em sua exposição de caracteres e idéias. Clint Eastwood e Lee Van Cleef defendem bem seus papéis; mas a curiosidade são as participações de Gian Maria Volonté como o bandido Índio (Volonté era muito requisitado em obras políticas da época e surpreende sua inserção neste escapismo fílmico) e de Klaus Kinski, ator alemão que foi o favorito da melhor fase da carreira de Werner Herzog.