Crítica sobre o filme "Psicose":

Carlos Cauás
Psicose Por Carlos Cauás
| Data: 15/04/2002

Quando quebramos algo, mandamos consertar. Quando não é o caso, podemos aperfeiçoar. O problema é que algumas coisas não devem ser mexidas, nem aprimoradas e muito menos copiadas. Psicose do mestre Alfred Hitchcock não tá quebrado. O que o diretor Gus Van Sant quis fazer com o filme ninguém entendeu? Ele queria aperfeiçoar a perfeição? É impossível e assim ficou provado com essa refilmagem à risca do clássico de 1960. Nada foi mudado, além é claro do filme ganhar cores, cores aonde a fotografia em preto e branco era (é) um espetáculo no filme original. Fotografia em preto e branco que fazia você olhar para a casa de Bates e sentir um frio na espinha. Com o tom colorido isso não acontece.

A trama todo mundo sabe, porém foi adaptada aos anos 90. Mulher rouba 400 mil dólares (no original 40 mil dólares) da imobiliária aonde trabalha. Foge para encontrar o namorado que mora em outro estado e no caminho resolve se hospedar em um motel fora da estrada. Norman é controlado por sua mãe, que é duro com o filho em relação às mulheres. Cena do chuveiro, facada... bem, o resto vocês devem saber. Van Sant faz uma cópia do original, não simplesmente a história, mas os diálogos, posicionamento das câmeras e algumas poucas inovações usando a tecnologia dos dias de hoje. Compare o vôo da câmera depois da abertura sobre Phoenix. Como é uma cópia colorida e já que o original é clássico; pergunta-se: o filme não é ruim? Certo? Certo, o filme não é ruim. Ele é desnecessário.

Você não viu ´Psicose´ original? Bem, esse filme um tédio. Diálogos chatos, cansativos. Vivemos em dias de assassinos em serial que usam facas, machados, revólveres, etc... tudo a base de muito derramamento de sangue. Não que esses filmes sejam um espetáculo, mas fez com que fosse a cara do gênero dos anos 90. Quando assistimos ao filme original de Hitchcock nos colocamos na época em que foi lançado e nos adaptamos a tudo nele. É o forte da fotografia em P&B é lembrarmos da época em que foi feito o filme e simplesmente o aceitarmos, o que não acontece com essa refilmagem a cores.

O elenco: Norman Bates é interpretado pelo Vince Vaughn, péssima escolha. Anthony Perkins do original fazia com que sentíssemos pena dele e até uma certa confiança, o que não acontece quando vemos o Vince Vaughn pela primeira vez. Aqui encontramos um Bates, de cara, perturbado. Assim como o resto do elenco que simplesmente tentou copiar, sem sucesso, os gestos, olhares, afeições do elenco original. Até mesmo a Julianne Moore, que é uma atriz altamente versátil, não se sai bem. Quase não a percebemos.

A casa de Bates no original é muito, mas muito sinistra. Aqui, na versão colorida do Gus é apenas uma casa velha caindo aos pedaços. A questão de o filme agradar ou não fica a cargo de cada um. Se você viu a versão de 1960 sentirá na pele a cópia, porém não detestará essa nova versão. Já aqueles que não viram a versão original, ou assistirem primeiro a versão de 1998, vão sentir culpa por não ter visto a obra de Hitchcock antes.

A música, a abertura, os diálogos, está tudo em perfeito lugar, mas, falo novamente, não se adapta aos anos 90.