Crítica sobre o filme "Quem Não Matou Mona?":

Eron Duarte Fagundes
Quem Não Matou Mona? Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 19/05/2003

Nick Gomez é um obscuro fazedor de filmes, para usar duma expressão utilizada pelo cineasta brasileiro Carlos Reichenbach em entrevista a um jornal de Porto Alegre sobre as relações entre um cinema comercial e um cinema de autor. Gómez é o mais obtuso tipo de fazedor de filmes. Torna-se evidente que uma realização despersonalizada como a comédia de humor negro Quem não matou Mona? (2000), dirigida por Gomez, tem a mão de DeVito na direção cinematográfica. Gomez é um cordeirinho obediente; só deve ter emprestado seu nome e algum esforço mais mecânico.

Sabe-se que DeVito, talvez pelo complexo duma presença rotunda em cena, tem certas manias de considerar-se um sub-Hitchcock, pelo que se viu nos filmes que eventualmente dirigiu. Em Quem não matou Mona?, um daqueles lançamentos comerciais que o espectador mais crítico deixa passar optando por ver obras mais importantes e depois numa descompromissada tarde de domingo vai ver em dvd, DeVito e seu pupilo, o diretor Gomez, exercitam um anacrônico humor negro interiorano, mais ou menos na linha daquele que Alfred Hitchcock colocou em cena em O terceiro tiro (1955), que contava em seu elenco com uma estreante de vinte anos de idade, Shirley Maclaine. O filme de Gomez e DeVito arrolam lugares-comuns em torno da morte (aparentemente acidental na direção dum automóvel) duma mulher (Bette Midler, a melhor interpretação, sem os vícios de estrelismo de DeVito e a excessiva pose de Jamie Lee Curtis) odiada por todos, inclusive a família, no povoado. O dilema do policial vivido por DeVito é descobrir, entre todos, quem não teria cometido ato algum para sabotar o envenenado carro em que Mona despencou no rio do local ao não vencer uma curva.

Quem se dispõe a um entretenimento ligeiro pode ver Quem não matou Mona sem sustos. O filme, como a maioria das produções americanas, mesmo as ruins (é o caso: ruindade é o que abunda nesta fita), não aborrece. É claro: o olhar de qualquer espectador ocidental, mesmo o mais crítico e aguçado, foi educado pela linguagem cinematográfica fabricada em Hollywood, aquela do campo-contracampo mais trivial, um plano se sucede a outro sem outra função que a de dispor episódios. O que vem depois?