Não há dúvida que o trabalho de Jamie Foxx é fantástico e merece todos os prêmios. Parece imbatível mesmo para o Oscar. Mas o filme sobre Ray Charles não é essas coisas. Antes de tudo é longo demais, podia ter perdido várias barrigas, que alongam a narrativa e aborrecem. A gente cansa de ver Ray traindo a mulher, se drogando, tendo traumas de infância (ele deixou o irmão se afogar, sem conseguir agir). E tem uma resolução inaceitável, quando mostra mais uma vez a mãe passando-lhe sermão, caindo num melodrama barato. O segundo final quando ele volta a ser aceito na Geórgia, esse sim funciona. Ou seja, o ator é magnífico, o filme nem tanto.
A história embora conte uma parte relativamente pequena da vida de Ray Charles (e esconda muita coisa, inclusive um primeiro casamento) mostra o principal. Que ele era esperto para negócios, implacável com os que o traiam, totalmente infiel à esposa (e não prometia nada para as amantes, que descartava sem a menor simpatia). Ou seja, mostra mais defeitos do que é costume numa biografia autorizada como esta (embora Charles tenha morrido sem ter visto o filme finalizado, ajudou Jamie e viu os copiões, o filho dele assina a co-produção). Certamente é a garra de Jamie (a voz é quase sempre de Charles, mas tem momentos onde Jamie entra com sua própria voz, toca também piano, e sempre convence).
A princípio os flashbacks com a mãe até são curiosos, mas há excesso deles e o filme quase derrapa quando vira fita de drogado, onde o herói tem que passar pelo Rehab e largar o vício em heroína. A parte musical é legal, mas desequilibrada: na primeira parte não se ouve direito as músicas, do meio para o fim, ouve-se demais. Enfim, é muito discutível o trabalho do diretor Hackford. Felizmente, isso não deve impedir o triunfo de Foxx. O que torna o filme importante e notável.