Crítica sobre o filme "Rei dos Reis, O":

Eron Duarte Fagundes
Rei dos Reis, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 03/02/2004

O rei dos reis (King of Kings; 1961), de Nicholas Ray, é um exemplar notável das possibilidades estilísticas que já vicejaram em Hollywood; Ray e seus diretores de fotografia (Franz Plamer, Robert Krasker e Manolo Berenger) conseguem dar à imagem cinematográfica uma beleza e poesia visuais que se apoderam dos sentidos do espectador, fazendo-o mergulhar na magia do cinema na mesma opção física de obras-primas como El Cid (1960), de Anthony Mann, ou Cinzas no paraíso (1978), de Terrence Malick.

Brilhando na reconstituição de época e na montagem das seqüências, o cineasta relaxa um pouco a possível tensão dramática que poderia surgir do audacioso e irreverente confronto entre duas revoluções propostas contra o poder romano: a revolução da paz e da persuasão, disseminada por Jesus Cristo; e a revolução da força e da guerra, alardeada por Barrabás. Mesmo assim, o sentido humano que Nicholas Ray consegue insuflar em criaturas geralmente estereotipadas pelos conceitos religiosos dá a O rei dos reis uma série de colocações inusitadas em filmes que tratam da vida de Cristo.

O equilíbrio das interpretações é outro dado, desde a forma da utilização do físico dos atores em seus papéis (Jeffrey Hunter como Cristo e Robert Ryan como João Batista) até algumas alucinações musicais-pictóricas como aquela de Bridget Bazlen que, encarnando Salomé, dança diante dum voraz e malicioso Herodes Antipas.