Crítica sobre o filme "Robinson Crusoé":

Eron Duarte Fagundes
Robinson Crusoé Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 28/03/2005

Pode-se afirmar contundentemente que Robinson Crusoe (1952), a adaptação que o cineasta espanhol Luis Buñuel fez para o romance clássico do inglês Daniel Defoe, é uma das realizações menos interessantes do diretor de Os esquecidos (1950). O lado de documentarista de Buñuel topa a ambientação natural na ilha onde o náufrago de Defoe vive por pouco mais de vinte e oito anos acompanhado unicamente por seu criado índio Sexta-Feira; e Buñuel mistura a este documentário natural um certo espírito aventuresco que torna seu filme digerível mas sem inspiração.

A personalidade surrealista de Buñuel submerge quase inteiramente no ramerrão que é a narrativa que vemos em cena. O que há de mais pessoal no filme são certos sonhos esquisitos e fluidos, como aquele em que Crusoe delira estar vendo seu pai; o teor psicanalítico da mensagem descamba para o óbvio, mas a mão de encenador de Buñuel chega a salvar alguma coisa na seqüência.

De qualquer maneira, seu lançamento no mercado de dvd permite ao observador o conhecimento de certas películas obscuras de um realizador de gênio. Se Robinson Crusoe, assim como O alucinado (1953) e Ensaio de um crime (1955), está longe do nível de Nazarin (1958), por exemplo, é sempre boa a oportunidade de vê-lo nem que seja para comparar com o melhor de Buñuel.