Crítica sobre o filme "Rogopag - Relações Humanas":

Eron Duarte Fagundes
Rogopag - Relações Humanas Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 05/01/2005

Rogopag (1962) é mais um destes filmes em episódios em que os produtores italianos contratavam diretores de prestígio nos anos 60 para rodar. Em Histórias extraordinárias os realizadores Federico Fellini, italiano, Louis Malle e Roger Vadim, ambos franceses, tinham um ponto em comum: os contos sobrenaturais do ficcionista norte-americano Edgar Allan Poe. Em Rogopag o que temos são visões diferenciadas sobre a sociedade da época segundo a ótica de quatro cineastas: três são ainda hoje grandes nomes da história do cinema, os italianos Roberto Rossellini e Pier Paolo Pasolini e o francês Jean-Luc Godard; já Ugo Gregoretti é menos referido hoje em dia. O título da produção vem dos nomes dos diretores: Ro de Rossellini, Go de Godard, Pa de Pasolini, G de Gregoretti.

Na verdade, nem Rossellini, nem Godard, nem Pasolini colocam seus episódios entre as melhores coisas que realizaram; temos a impressão de estilistas refinados que, no espaço miúdo dos filmes, não lograram aprofundar suas intenções. Mas o pior episódio de todos é o de Gregoretti, bruto e insípido, não tem nem mesmo a categoria do belo estilo dos outros cineastas.

Pureza, de Rossellini, trata de um homem de meia-idade que em suas andanças se deixa fascinar por uma jovem, Ana Maria, e a filma; a seqüência final em que o homem mistura seu corpo com as imagens filmadas da garota é muito bonita. Rossellini estava no auge de sua capacidade estilística e sua câmara capta com agudeza o universo existencial europeu de então; mas faltou aprofundar o drama da maníaca personagem do homem.

Em O novo mundo Godard é menos aceleradamente experimental que sempre foi habitual em seu cinema; uma relação dum casal em crise e uma explosão atômica que pode ter modificado o humor e os sentimentos das pessoas cruzam a narrativa. Uma cena capital: a mulher diz ao homem: “eu te ex-amo”. Deixou de amar, mas a sombra do amor permanece; é uma reflexão sobre a esterilidade sentimental daquela década, tratada com mais brilho nos filmes do italiano Michelangelo Antonioni.

Pasolini se alonga muito em A ricota, distendendo o ritmo narrativo. É uma evocação bíblica ao filmar um diretor (Orson Welles) que está dirigindo uma produção da história de Jesus. Seqüências a cores (cores frias e artificiais, quase teatrais, como era comum nos primeiros tempos das películas a cores) se alternam com outras (a maioria) em preto-e-branco. Pasolini não perde a oportunidade de fazer propaganda de um de seus filmes de então: o diretor vivido por Orson Welles está lendo uma poesia para o jornalista que o entrevista; a capa do livro contém uma fotografia e o título Mamma Roma, filme rodado por Pasolini em 1962.

Em O frango caseiro Gregoretti acompanha obtusamente a vida duma família italiana em busca dum bom lugar para residir, até o momento do acidente fatal. Fazendo referências ao raso mundo televisivo de então (como suas citações de Topo Gigio), Gregoretti mostra que está hoje muito justamente esquecido. O melhor do episódio é a presença do grande ator italiano Ugo Tognazzi.