Crítica sobre o filme "Sedução da Carne":

Eron Duarte Fagundes
Sedução da Carne Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 25/08/2004

Ver Sedução da carne (Senso; 1954), do italiano Luchino Visconti, é um prazer para os olhos e para o coração. Poucos cineastas têm a capacidade de, como o faz Visconti neste filme, extrair duma singela história de amor tantas observações sobre uma época (metade do século dezenove) e uma classe social (a decadência da aristocracia européia). A sutileza do realizador para compor cenários e semear o comportamento de suas personagens é sempre arrebatadora; o caso de amor entre a condessa Lívia (casada com outro) e o garboso oficial austríaco Franz percorre um caminho de sonhos (para ela) e despenca, assim como as ilusões de status das classes sociais a que pertencem os dois apaixonados. Ela, uma aristocrata que com seu dinheiro compra o amor dele, um desertor, um covarde, um terrível cafajeste; Visconti joga com estes elementos de maneira brilhante.

Visconti é mesmo um seduzido pela baixeza humana, que ele retrata com muito refinamento, passando esta sedução ao espectador. Uma certa encenação operística e teatral se reflete na linguagem cinematográfica de Visconti, da manipulação dos atores à utilização dos cenários; mas é um cinema cerebral, estético, tudo é brilhantemente resolvido visando a dar profundidade às emoções encenadas.

O impressionismo das cores e da realização em si reforça a idéia da decadência. E Visconti é um dos últimos artistas que cantam o fim da aristocracia européia. Pode-se concluir, vendo ou revendo seus filmes, que a relação de Visconti com o cinema é autenticamente crítica.