Crítica sobre o filme "Sociedade dos Poetas Mortos":

Eron Duarte Fagundes
Sociedade dos Poetas Mortos Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 23/10/2003

Sociedade dos poetas mortos, um dos filmes mais citados realizados pelo australiano Peter Weir nos Estados Unidos, trata do tema da educação. E o tratamento de Weir é subversivo. Sob a aparência de uma produção industrial (algo bem produzido, bons atores, corretas doses de humor e melodrama para cativar o espectador de entretenimento), o filme de Weir vai além disto. Sem chegar a realizar uma obra de vanguarda, fragmentada e iconoclasta, ou criar aquele clima narrativo peculiar da obra-prima Piquenique na montanha misteriosa (1975), seu mais arrebatador filme, Weir provoca uma reflexão geralmente ausente do cinema mais comprometido comercialmente.

Se o professor de métodos não-ortodoxos da obra de Weir ensina seus alunos a pensar por conta própria (“educação é ensinar a aprender a pensar por conta própria” diz o irrequieto mestre ao diretor da escola que recrimina seus métodos), o assistente aprende a olhar com a linguagem cinematográfica de Sociedade dos poetas mortos. E ambos – os alunos do professor e os espectadores do cinema —aprendem a sentir. Reaprendem os velhos sentidos do mundo ocultados por uma civilização de artifícios.

No início de Sociedade dos poetas mortos o professor manda seus alunos lerem uma página de crítica literária em que o autor se vale de conceitos precisamente matemáticos para analisar as obras de arte. E em seguida manda rasgar esta página, arrancá-la do livro. Poesia (“Ensinando poesia” é o título do ensaio jogado fora) não é como um produto de supermercado, não é número de televisão a que se deve dar nota. Ciência, Direito, Matemática são coisas necessárias à vida, mas a poesia, o romance, o amor, os sentimentos são as razões mesmas da nossa existência, emociona-se o professor diante de seus alunos.

E assim, com igual emoção, o espectador deve fechar a visão desta obra que está entre as mais belas da filmografia de Weir.