Crítica sobre o filme "Sobre Meninos e Lobos":

Eron Duarte Fagundes
Sobre Meninos e Lobos Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 11/09/2004

O ator-diretor Sean Penn dirigiu o ator Jack Nicholson num dos melhores papéis deste em tempos recentes num melodrama policial de clima surpreendente chamado A promessa (2001). O ator-diretor Clint Eastwood dirige o ator Sean Penn num dos papéis mais interessantes deste em muitos anos em Sobre meninos e lobos (Mystic river; 2002), outro melodrama policial centrado na busca dum criminoso perverso e desprovido de qualquer sanidade.

O roteiro de Brian Hegeland é bem armado mas tem lá suas falhas ou concessões. A superficialidade hollywoodiana com que são esmiuçadas as razões das personagens e as fáceis idas e vindas sobre o autor do crime (para confundir narrativamente os achados do espectador) nada tem de assombroso, descaracterizando aquilo que chegou por aqui como uma decantada obra-prima.

Nada disso. É tão-somente um belo filme policial, em que Eastwood exercita com habilidade seu jeito de artesão cinematográfico, revelando especial sensibilidade para dirigir seus atores, o que compensa certas tiradas mais superficiais. Sean Penn, Kevin Bacon e Tim Robbins estão admiráveis em seus desempenhos, mas as mulheres Laura Linney e Marcia Gay Harden não deixam por menos.

Mergulho num trauma de infância que vinte e cinco anos depois marcaria as vidas de três ex-garotos (um deles foi levado num carro e estuprado, no passado; no presente, outro deles tem a filha adolescente assassinada, o que foi outrora seviciado é suspeito do crime e o terceiro deles é o investigador policial), Sobre meninos e lobos é um entretenimento recomendável, com um fecho que surpreende mas é inverossímil e inconvincente. Novamente, como em As pontes de Madison (1995) e Cowboys no espaço (2000), obras em que o cineasta aparece diante das câmaras, neste filme em que Eastwood só dirige constatamos que ele é um diretor apreciável mas sem transcendência.