Não há dúvida de que Lara Croft: a origem da vida (Lara Croft Tomb Raider – the crade or the life; 2003), de Jan De Bont, o segundo filme que traz a heroína beiçuda e brava interpretada por Angelina Jolie com o desembaraço do ridículo necessário à sua personagem, é uma aventurinha rasteira, feita para preencher o entretenimento do vazio do publico contemporâneo. A primeira imagem da fita é um grandiloqüente superplano aéreo (a pasteurização do que Alfred Hitchcock fez, de maneira maravilhosa, em Os pássaros, 1963) em que a câmara percorre uma paisagem urbana para, ao fim da seqüência, deter-se num local, situado no alto, em que há um casamento e as pessoas dançam; a música neutra e distanciada do superplano aéreo é bruscamente substituída, quando a câmara se abeira dos festeiros, pela música-in, descontraída e íntima do ambiente. O filme, em sua maior parte, abdica do realismo ambiental para seguir aquela partitura distanciada que é o próprio signo da aventura fútil.
Creio que mesmo os amantes da aventura cinematográfica em si não lograrão engolir as futilidades propostas de pela realização de De Bont. Como ocorria no primeiro filme de Lara/Angelina, o roteiro inclui questões mitologicamente sofisticadas, como a Caixa de Pandora grega, para tapar o sol com a peneira: esconder sua inenarrável bobagem.