Crítica sobre o filme "Twin Peaks: 1ª Temporada":

Jorge Saldanha
Twin Peaks: 1ª Temporada Por Jorge Saldanha
| Data: 20/10/2004

Não é sempre que o sucesso acompanha a arte, e a conjunção destes dois fatores, em se tratando de TV, pode ser considerado algo bem raro. Mas que eventualmente acontece, e Twin Peaks, série cuja primeira temporada a Paramount lançou em DVD no Brasil em setembro, é a prova disso. No final dos anos 80, a rede norte-americana de televisão ABC necessitava urgentemente de um grande sucesso de audiência, e deu carta branca ao diretor, produtor e roteirista de TV Mark Frost para criar algo novo e criativo. Frost convenceu seu amigo David Lynch a embarcar no projeto, e finalmente no dia 08 de abril de 1990 foi exibido o episódio-piloto de Twin Peaks. Por obrigação contratual com um investidor europeu, Lynch e Frost deram um desfecho ao episódio piloto, para que ele fosse lançado de forma independente na Europa. Essa versão alterada chegou a ser lançada em VHS no Brasil pela Warner.

O piloto foi um grande sucesso, e a ABC encomendou mais sete episódios, dando total liberdade criativa a Frost e Lynch. Ao final do sétimo episódio a trama estava longe de sua conclusão, e a emissora produziu mais 22 episódios tão surpreendentes quanto esquisitos, com direito a conspirações alienígenas e ao agente do FBI travesti Dennis/Denise Bryson – interpretado por ninguém menos que David Duchovny, que posteriormente em Arquivo X viveu outro agente do FBI que pode ser considerado um descendente direto de Dale Cooper: Fox Mulder. Envolvido à época com as filmagens de Coração Selvagem, longa com o qual viria a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, Lynch delegou a vários profissionais as tarefas de dirigir e escrever a série. Um programa de computador com as diretrizes básicas do enredo e as características dos personagens era seguido por todos, o que manteve a unidade da trama.

Em suma, mesclando suspense policial, melodrama, deformidades físicas e mentais, humor negro e terror sobrenatural, a dupla Frost/Lynch apresentou ao público algo definitivamente novo e provocativo, tudo acompanhado pela essencial trilha sonora de Angelo Badalamenti. Em abril de 1991 a série começou a ser exibida (ou melhor dizendo, “destruída”) pela Rede Globo, que para variar relegou Twin Peaks às noites de domingo, após o Fantástico. E pior, fez cortes que deixaram a trama e seu desfecho sem pé nem cabeça. Menos mal que, anos depois, a série foi reprisada na íntegra por emissoras independentes. Em 1992, David Lynch lançou nos cinemas o longa Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer, uma prequel que apresentava fatos anteriores aos da série, com quase todo o elenco original.