Crítica sobre o filme "Van Helsing - O Caçador de Monstros":

Rubens Ewald Filho
Van Helsing - O Caçador de Monstros Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/12/2004

Começou mal a temporada de blockbusters de 2004 com este Van Helsing, um filme cheio de som e fúria significando nada. Tudo que há de ruim no cinema atual, está consubstanciado neste delirante videogame, que reprocessa velhas idéias num pacote irritante de efeitos especiais excessivos e redundantes. O que poderia ser uma curiosa revisão de temas clássicos do terror, acaba virando uma irritante aventura onde tudo é hipérbole, grito, histeria. Nem mesmo Hugh Jackman chega a ter um personagem convincente em seu primeiro filme como astro absoluto (muita coisa dele é insinuada mas não explicada, nem fica claro que é o irmão mais novo do matador de vampiros do Drácula original que se chamava Abraham Van Helsing. Aqui ele é chamado de Gabriel).

É difícil entender como o roteirista e diretor Stephen Sommers teve a coragem de dedicar a seu pai este filme tão desatinado e destrambelhado. É verdade que no Retorno da Múmia ele já tinha dado sinais de que estava por demais fascinado com os efeitos CGI, em vez se preocupar com roteiro, personagens, verdade humana. Aqui é impossível se identificar com o misterioso herói, que afinal de contas é apenas um matador, mesmo que fossem monstros (num prólogo, ele mata o Mr. Hyde numa luta na Notre Dame, nem que para isso tenha que destruir seus vitrais, aliás péssimo exemplo. O problema é que o Monstro é tão inverossímil quanto o Hyde de Liga Extraordinária. Como se a Universal não tivesse aprendido a lição com Hulk).

A base da trama porem é curiosa, considerando-se que o estúdio continua a ser dono dos copyrights dos mais famosos monstros de terror do cinema, o Dracula, o monstro de Frankenstein e o Lobisomen. Ou seja, fazia sentindo mexer em todos eles até porque são indestrutíveis e imortais. Não vai ser este desastre que irá perturbá-los. De qualquer forma foi tudo rodado em Budapest (onde foi construída a cidade cenográfica que agora será utilizada pela Universal em serie semanal de TV). Na história, Van Helsing misterioso matador de monstros a serviço do Vaticano (?) vai para a Transilvania ajudar os sobreviventes de uma família que lutam contra Drácula. Mas o rapaz Velkan foi mordido por Lobisomen e logo se transformará num deles (quem faz o papel é Will Kemp, famoso dançarino inglês que criou a versão de O Lago dos Cisnes de Matthew Borne). Sobrou a irmã, Anna Valerious (Kate Beckinsale, mal maquiada e vestida, aliás todos os figurinos são discutíveis e bregas) que eventualmente será o interesse romântico do herói. Nunca se viu um Drácula tão efeminado, tão mau ator (Richard Roxburgh) mesmo que com freqüência seja substituído por Efeito CGI (assim como suas três noivas voadoras e sem esquecer o rebanho de gárgulas, descendentes deles, a que Drácula esta querendo dar a luz, usando a tecnologia que aprendeu com o Conde Frankenstein e depois com seu Monstro). Parece confuso? Um pouco, porque no fundo, o filme é uma sucessão de seqüências de ação, por vezes com lances divertidos (as duas diligências sendo atacadas a beira do abismo) e com momentos que são deliberadamente de humor (Van Helsing é acompanhado por um frei que é seu assistente, o australiano David Wehham, que esteve em O Senhor dos Anéis, que funciona como uma espécie de Q, caso o herói fosse um 007). Ou seja, nem tudo é abominável.

A produção parece ser muito luxuosa, com infinito uso de efeitos (e aí vem essa maldita palavra de novo!). Mas o filme está longe da ingenuidade e alegria de A Múmia.

É terror sem violência (parece desenho animado, por vezes obviamente fake), indicado para pré- adolescentes que possivelmente irão rir com as façanhas dos personagens (num universo de Halloween felizmente distante para nós). Mas justamente por isso limita seu alcance e interesse.