Crítica sobre o filme "E o Vento Levou":

Eron Duarte Fagundes
E o Vento Levou Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 21/03/2001

Mesmo que se possa negar a E o vento levou (Gone with the Wind; 1939) a força duma obra-prima, aquele crítico que torce o nariz para os sucessos populares do cinema não pode ignorar esta realização de Victor Fleming. Se um filme atrai grande público em sua época e depois é esquecido, se dirá que seus elementos comerciais envelheceram; se este filme não tiver porte artístico, estará morto.

O caso do trabalho assinado por Fleming há mais de sessenta anos é peculiar. Os críticos nunca foram muito condescendentes com este longo melodrama histórico. Em tempos mais recentes, com a baixa da política do filme de autor, alguns analistas têm realçado a qualidade narrativa da fita, colocando-a entre as maiores já feitas. O que ocorre é que as platéias de todas as décadas se tem emocionado com a lacrimosa e às vezes pedante história de amor interpretada por Vivien Leigh e Clark Gable entre os destroços da Guerra Civil Americana no século dezenove.

Mesmo que Fleming não seja propriamente um autor cinematográfico (e quem pode hoje afirmar, por exemplo, que Steven Spielberg o é?), e submeta-se bastante aos desejos postiços do produtor (que é o que representa o gosto do público), é inarredável duma apreciação crítica contemporânea a influência de algumas imagens clássicas do filme, como aquelas que envolvem a escada (longa e larga) recoberta de vermelho em que três cenas básicas ocorrem: Clark conduz Vivien em seu colo escada acima, Vivien rola escada abaixo espatifando-se, o beijo clássico trocado ao pé da escada.

Enfim, altos e baixos de um clássico do cinema pela imposição das platéias de várias gerações (pode o estudioso de cinema ignorar esta realidade?). Alguns poderão amar o filme apaixonadamente. Outros o detestarão porque detestam quase tudo o que vem de Hollywood. Jean Tulard afirma que é o pior filme de Fleming, preferindo Joana d´Arc (1948). Segundo Leonard Maltin, o filme "parece melhor com o passar dos anos." De mim sei que a fita de Fleming não figurará em minha lista de filmes favoritos; nem o desprezo por isso.