Crítica sobre o filme "Avassaladoras":

Eron Duarte Fagundes
Avassaladoras Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 20/12/2002

Há, em Avassaladoras (2002), de Mara Mourão, uma cena em que a personagem de Giovanna Antonelli, uma designer gráfica, sem homem há um ano desde que rompeu com um homem que a traiu no dia de aniversário dele quando ela lhe preparava uma festa-surpresa (a bem-humorada e doce-amarga seqüência de abertura é a desta traição), esta personagem está olhando para a televisão em que passa um filme interpretado por Alexandre Borges e sua esposa Júlia Lemmertz: os farejadores de filmes nacionais sabem que se trata de Um copo de cólera (1999), um pesado drama erótico de Aluízio Abranches extraído dum livro de Raduan Nassar.

Mara faz ali, além do clima de desespero pela secura sexual de sua criatura (que vê um casal amando-se mas está sem ninguém), uma auto-referência do cinema brasileiro, ligando sua narrativa leve e graciosa (mas também um pouco fútil e já vista) a uma realização mais austera e perversa.

Mas, como ocorria na fita de Abranches (cujo nome constante dos créditos finais de agradecimento, assim como seu discutível filme), Avassaladoras tem alguns defeitos de realização: Reynaldo Gianecchini está caricato demais e a direção de elenco é meio desequilibrada, a despeito da espontaneidade adquirida e da revelação de que Giovanna pode ser melhor atriz do que é indicado nas telenovelas brasileiras. Não falta a referência è telenovela interpretada atualmente pela atriz, pois o namorado que a tira do deserto sexual é árabe.

Um filme de espírito feminino, superficial mas agradável de ver, Avassaladoras lembra um pouco, por seus resultados estéticos, o recente Domésticas, o filme (2001), de Fernando Meireles e Nando Olival.