Crítica sobre o filme "Benjamim":

Eron Duarte Fagundes
Benjamim Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 17/09/2004

Não estou entre os admiradores do escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda, embora exalte o compositor e o cantor que habitam o mesmo corpo. A literatura de Chico me parece difusa e monótona, um mar monocórdio de palavras semivazias (se não fosse uma estilização às vezes curiosa).

Benjamin (2004), o filme que a cineasta Monique Gardenberg extraiu de um dos livros de Chico, em tudo é o correspondente cinematográfico da ficção brilhosa e morna do autor de Budapeste (2003), outro romance que poderá vir a interessar ao cinema (Estorvo já foi filmado por Ruy Guerra, um realizador que há muito perdeu a receita de um bom filme).

Monique adota um charme de filmar que no começo seduz o espectador. E mais ainda quando ela conta com o fascínio interpretativo de Paulo José e certas participações curiosas, como Chico Diaz. A câmara de Monique é instável e perturbada como convém, para tentar contar uma história que na verdade se passa no interior da personagem. Mesmo valendo-se dos talentos de Jorge Furtado e Glênio Póvoas como co-roteiristas, a realizadora não logra melhorar as confusões do enredo originalmente contado por Chico Buarque; o filme pouco a pouco resvala para o mais puro vazio, esforçando-se por preencher seu espaço com maneirismos formais incômodos e aborrecidos.

Um dos problemas centrais de Benjamin é a atriz que conduz a ação, Cléo Pires, bonita e sensual em cena, vivendo duas personagens distintas, mas longe da experiência e do talento das grandes musas do cinema. Mal dirigida por Monique, talvez Cléo seja a debilidade principal da narrativa, acumulando-se a um roteiro perdido e a uma direção desorientada.