Crítica sobre o filme "Feliz Ano Velho":

Eron Duarte Fagundes
Feliz Ano Velho Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 04/07/2003

Vi Feliz ano velho (1988), de Roberto Gervitz, no Festival de Cinema Brasileiro de Gramado de 1988; era a estréia de Gervitz em realizações comerciais, depois de ter assinado, juntamente com Sérgio Toledo Segal, um dos mais importantes documentários políticos da história do cinema brasileiro, Braços cruzados, máquinas paradas (1979). Em Feliz ano velho Gervitz não fugiu aos ranços do padrão comercial de filmar. Adaptado de um best-seller autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, o filme de Gervitz logra comunicar-se facilmente com seu público pela utilização de uma linguagem do cotidiano cinematográfico; apesar de dar voltas no tempo, percorrendo a memória do protagonista enquanto está deitado num leito de hospital (nada a ver com as tortuosas imagens de Johnny vai à guerra, 1971, filme essencial do americano Dalton Trumbo), Feliz ano velho não é um complicado filme mnemônico, pois sua intenção é outra, bastante longe das encucações de linguagem do francês Alain Resnais: mostrar a capacidade de superação dum garoto problemático, que viveu algumas experiências negativas, como a perda do pai (um deputado vítima do regime militar) e o acidente que o jogou a uma cadeira de rodas.

Mas mesmo como um filme convencional, Feliz ano velho poderia ter ido além de sua proposta de simplesmente conquistar o público; na verdade, parece ser esta sua intenção basilar, pois tudo (da fotografia, passando pela montagem, até chegar aos atores, como Marcos Breda e Malu Mader) é feito em função da simpatia. Curioso como um tema forte e às vezes com conotações políticas pode servir ao conformismo cinematográfico.