Crítica sobre o filme "Paixão de Jacobina, A":

Eron Duarte Fagundes
Paixão de Jacobina, A Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 07/07/2003

Ao que parece, o realizador carioca Fábio Barreto andou numa fase de paixão cinematográfica pela literatura do sul do país. Depois de ter lançado em 1995 O quatrilho, em que, a partir dum romance de José Clemente Pozenato, se debruçava sobre a colonização italiana na serra gaúcha, Barreto produz uma narrativa ainda mais ambiciosa com seu A paixão de Jacobina (2002), cujo roteiro de Leopoldo Serran se baseou num dos mais belos livros do ficcionista Luiz Antonio de Assis Brasil, Videiras de cristal (1990). Produção ambiciosa e frustrada na maioria de suas intenções. Se em O quatrilho o cineasta ainda tentou buscar o sotaque italiano, em A paixão de Jacobina ele abdica do esforço das caricaturas do falar germânico-gaúcho; perde-se algum laivo do realismo documental, mas ganha-se em menos constrangimento. Mas o erro básico de O quatrilho repete-se em A paixão de Jacobina: assim como Patrícia Pilar não funcionava como uma colona italiana, Letícia Spiller, como uma santa louca de origem germânica, funciona menos ainda, pois sua fragilidade como atriz a coloca abaixo da sinceridade de Patrícia, bonita como Letícia e melhor intérprete. O assombroso formalismo da imagem produzida por Barreto chega a criar, na relação da figura de Jacobina com uma espécie de Cristo-mulher, certas cenas mítico-religiosas que impressionam os olhos; as alegorias perdem-se, a função de crítica de um episódio histórico pouco analisado esvai-se. Barreto busca seu público ali onde o entretenimento impera, um público indefinido.

Transformando bastante a história contada por Assis Brasil em seu romance, Barreto está na onda de um certo cinema brasileiro atual, que, à falta de roteiros originais mais inspirados, busca transpor para a tela autores brasileiros contemporâneos. Se isto servir para que as pessoas descubram nossa literatura, uma das funções deste cinema estará cumprida.