Crítica sobre o filme "Imperdoáveis, Os":

Rubens Ewald Filho
Imperdoáveis, Os Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/05/1993

É difícil explicar o sucesso americano deste novo faroeste de Clint Eastwood, o décimo desde que se tornou astro com o gênero há mais de 25 anos antes. Embora o filme tenha rendido por volta de oitenta milhões de dólares é uma fita sombria, escura, difícil, amarga, trágica, sem nenhum vislumbre de heroísmo ou redenção. É quase um faroeste "noir", digno das lições dos diretores já falecidos Don Siegel e Sergio Leone, seus mestres, a quem o filme é dedicado. Seu maior defeito é a narrativa episódica, truncada, nem sua longa-metragem, mas a fotografia por demais escura. Clint tem a mania de realizar seus filmes com luz ambiente, natural, que por vezes resulta num breu total, particularmente diante das péssimas projeções dos cinemas brasileiros. Mais estranho ainda é que o gênero faroeste esteja em descrédito comercial e que este filme não faça muitas concessões comerciais. É verdade que tem diálogos mais realistas, falando mais abertamente sobre sexo, mas é desmistificador e não especialmente violento. Seu aspecto mais curioso é não ter heróis.

O protagonista Bill Munny (Clint) poderia ser o personagem do Homem sem Nome das fitas de Leone, depois que se aposentou (não esqueçam que Clint já tinha 62 anos) e vive viúvo com dos filhos numa pequena e arruinada fazenda. Por isso que aceita a proposta de um jovem pistoleiro Kid (Jaimz, cujo personagem tem uma característica única: é um pistoleiro míope que é incapaz de acertar qualquer coisa de longe!). Acontece que uma prostituta foi marcada a navalhadas por um vaqueiro e as colegas reuniram suas economias para oferecerem uma recompensa a quem matar o rapaz e seu parceiro. Contra essa atitude se levanta o xerife local, Little Bill (Gene Hackman) que proíbe armas na cidade e expulsa com grandes lances um pistoleiro inglês (participação especial de Richard Harris). Clint aceita a missão unindo-se ao Kid e recrutando um velho amigo o negro Morgan Freeman (mas nenhuma menção é feita à sua cor).

O interessante é que nem Clint nem Gene são heróis ou bandidos. Ambos são pessoas violentas, vingativas, individualistas. Não há mais mocinhos e bandidos. Quando um deles diz que "não merecia este tipo de morte" e leva um tiro pela cara, deixa-se claro que por aqui não há moralismos. É uma terra sem lei, onde vence o mais forte. Nem mesmo vigora a mitologia do Oeste (simbolizada pela presença de um escritor de livros do gênero, Saul Rubinek, que anota tudo e certamente escreverá ao contrário). Quando é possível enxergar alguma coisa, o filme é muito bem realizado, com as cenas tensas, momentos originais (quantos westerns você viu passados na chuva?), elenco exemplar (um destaque especial para Frances Fisher, atual mulher de Clint, que interpreta a chefe das prostitutas). Mesmo Clint, sem medo de revelar sua idade, tem uma presença carismática, passando com um mínimo de palavras seus conflitos interiores de um pistoleiro reformado obrigado a retomar as matanças. Não parece provável que o grande público brasileiro aprove o filme, por conta de seu ritmo lento. Mas os fãs do gênero ganharam um bem-vindo exemplar, provavelmente o melhor western que Clint já dirigiu. Premiado com os Oscar® de melhor filme, direção, roteiro e coadjuvante (Gene Hackman).