Crítica sobre o filme "Mutação":

Jorge Saldanha
Mutação Por Jorge Saldanha
| Data: 19/05/2012

O diretor mexicano Guillermo Del Toro, hoje um cultuado nome do cinema fantástico, ainda era praticamente desconhecido do grande público quando MUTAÇÃO (MIMIC, 1997), seu segundo filme e o primeiro rodado nos EUA, chegou aos cinemas. Após explorar o mito da vida eterna em CRONOS (1993), para sua estreia em língua inglesa Del Toro escolheu um tema caro à ficção cientifica – a criação da vida pelo Homem e seus resultados geralmente catastróficos. O filme também é uma espécie de retomada daqueles velhos títulos dos anos 1950 nos quais monstros, muitas vezes insetos, causavam destruição nas grandes cidades. A diferença é que o roteiro, escrito pelo próprio diretor, atualiza o tema e agora as criaturas não são resultado da radiação atômica, mas sim da manipulação genética.

 

Paralelamente, a comparação com os filmes da série ALIEN é inevitável, não só pelas criaturas insectóides, mas principalmente por Sorvino ser uma espécie de Ellen Ripley, que ao final terá de defender o garoto autista Chuy (Alexander Goodwin) da fúria do macho da colônia. Ajuda também o fato do ator Charles S. Dutton interpretar um personagem muito parecido com o que viveu em ALIEN3. Del Toro demonstra ser um hábil artesão ao construir ótimas sequências de suspense hitchcockiano, como a do início quando o garoto Chuy, pela sua janela, vê pela primeira vez um dos insetos e reproduz, com duas colheres, o som característico que fazem; e também de puro horror, como aquela em que os personagens principais, nos subterrâneos abandonados, ficam presos em um velho vagão de metrô cercados pelos insetos agressivos.

 

MUTAÇÃO pode não ser dos melhores filmes de Del Toro, mas não faz feio em comparação a outras boas produções similares e já traz algumas das marcas registradas do realizador, como as crianças sendo a mola propulsora da história – abordagem melhor explorada em seus filmes de língua espanhola como A ESPINHA DO DIABO (2001), O ORFANATO (2007, apenas produzido por ele) e sua melhor realização até o momento, O LABIRINTO DO FAUNO (2009). Como ele ainda não possuía o controle de que hoje dispõe sobre seus filmes, esta versão de cinema de MUTAÇÃO é resultado de algumas mudanças impostas pelos produtores. Somente ano passado Del Toro pôde lançar em Blu-ray, nos EUA, sua versão do diretor, com nova montagem e sete minutos de cenas adicionais. Como ele próprio admite, ainda não é a versão do filme que ele gostaria de ter feito, mas pelo menos está mais próxima da abordagem por vezes lírica e mágica que tanto aprecia.