Crítica sobre o filme "Habemus Papam":

Eron Duarte Fagundes
Habemus Papam Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 29/05/2012

Nanni Moretti, um dos principais cineastas italianos de hoje, diverte-se com o universo do Vaticano em Habemus Papam (Habemus Papam; 2011). Delirante e às vezes humoristicamente grotesco, o novo Moretti parte de uma situação inusitada: ao ser eleito o novo Papa, este se atemoriza diante das responsabilidades, afirma sua incapacidade para o cargo e foge infantilmente pelas ruas de Roma. Moretti, o diretor, conta com a veia “senilmente” debochada do intérprete francês Michel Piccoli no papel do Papa fujão; e o próprio Moretti vive um psicanalista que tenta entender os atuais tempos do Vaticano e a fragilidade humana que ali, naquela opulência, se instalara.

A influência central de Habemus Papam é o cinema do italiano Federico Fellini, com sua ironia atroz e barroca, especialmente uma cena de Roma de Fellini (1971), a do fantástico desfile de modas eclesiástico, parece ditar o espírito criativo de Moretti em sua atual realização. Sabe-se que o Vaticano sempre foi mote para os realizadores cinematográficos; de O cardeal (1963), de Otto Preminger, a Amém (2002), de Constantin Costa-Gavras, o mundo escuso do poder religioso em Roma sempre atraiu a imaginação de quem faz cinema. Moretti vai lá sem propriamente repetir ninguém: sem levar nada a sério a patologia de sua imponente personagem central, o cineasta de Caro diário (1993) executa suas tiradas cômicas com um rigor praticamente documental e que acaba validando sua experiência como uma obra de arte.