Caso você já tenha assistido à ótima e cerebral série da BBC SHERLOCK, a comparação com este SHERLOCK HOLMES – O JOGO DE SOMBRAS, que assim como o longa de 2009 foi dirigido por Guy Ritchie, é inevitável. E também será inevitável que a série inglesa leve vantagem na comparação, já que, apesar de toda a modernização feita na ambientação e personagens, ela é muito mais fiel à criação original de Sir Arthur Conan Doyle.
Mas além de sair perdendo na comparação com a série, o fato é que a continuação de SHERLOCK HOLMES é claramente inferior à primeira incursão de Robert Downey Jr. como o genial detetive inglês. O problema nem é a trama, que coloca Holmes frente a frente com seu arqui-inimigo Moriarty, cujas maquinações visam, nada mais, nada menos, desencadear a Primeira Guerra Mundial já no final do século 19. O problema é aquele mesmo que via de regra assola as continuações de filmes de sucesso de Hollywood: exagerar nos elementos que foram a receita de sucesso do original.
Assim, aqui tudo o que vimos de forma mais equilibrada no filme anterior é aumentado: a ação, com cenas que parecem saídas de MATRIX (a da floresta é espetacular, mas longa demais), releva a dedução e a investigação de mistérios a níveis mínimos; a excentricidade de Holmes, com seus disfarces ridículos e perícia de artes marciais digna de Jet Li, muitas vezes chega ao histrionismo, criando situações que beiram o pastelão; e os ciúmes que Holmes sente por Watson (também exagerando na dubiedade do relacionamento entre os dois), recém casado, levam o detetive a agir irresponsavelmente em relação à segurança da esposa do seu amigo (Kelly Reilly).
Assim, quem rouba a cena é o vilão Moriarty, convincentemente interpretado por Jared Harris (filho do falecido Richard Harris e que ultimamente tem sido mais visto na TV, em séries como MAD MEN e FRINGE) e que se revela como o fator que mais se aproxima aos conceitos originais de Doyle. Stephen Fry como o Mycroft, o irmão (aqui gay) de Holmes que trabalha para o governo britânico, também acaba sendo uma das boas adições ao filme. Menos sorte teve a sueca Noomi Rapace, que após conquistar fama internacional como a Lisbeth Salander dos filmes da trilogia MILLENIUM, estreou em Hollywood como a sem graça cigana Madame Simza. Que ela tenha melhor sorte em PROMETHEUS, de Ridley Scott.
Colocado tudo na balança, SHERLOCK HOLMES – O JOGO DE SOMBRAS é um grande filme-pipoca, falho, porém certamente movimentado e divertido e que ao final, em um sagaz duelo de xadrez entre Holmes e Moriarty, consegue fazer jus às suas raízes literárias. Pena que, ao contrário da produção anterior, terminamos de assisti-lo sem que a perspectiva de uma continuação pareça uma boa ideia.