Crítica sobre o filme "Sherlock Holmes - O Jogo das Sombras":

Eron Duarte Fagundes
Sherlock Holmes - O Jogo das Sombras Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 21/01/2012

Evidentemente o cinema realizado pelo inglês Guy Ritchie foge a qualquer natureza clássica, buscando uma espécie de malandragem de filmar onde as imagens saltitam rapidamente diante dos olhos do espectador, criando uma curiosa e às vezes extravagante associação de quadros pela montagem. Seu processo fílmico é tão cru quanto superficial mas se esforça por uma modernidade de linguagem. Tudo isto se torna a ver em Sherlock Holmes: o jogo das sombras (Sherlock Holmes: a games of shadows;  2011), uma versão livre e até faceira (um faceiro-cômico, com direito até a piscadela de olho para o observador quando a situação chama) das atividades do detetive britânico no episódio do assassinato (falso suicídio) do príncipe da Áustria às vésperas da Grande Guerra Mundial.

Roberto Dwoney Jr. exubera em seu estrelismo como Sherlock, acentuando cada um dos disfarces de sua personagem, especialmente enfatizando aquele em que o voluptuoso detetive se traveste de mulher invadindo o trem em que seu eterno companheiro, o doutor Watson, está rumando para a lua-de-mel com sua noiva. Em entrevistas, Downey falou em velharias a respeito das versões ultrapassadas de Sherlock. É verdade que o desrigor de Ritchie se afasta dos pudores clássicos de A vida íntima de Sherlock Holmes (1970), do austríaco Billy Wilder. Mas a inteligência que percorre a narrativa de Wilder (também cômica, espirituosa até) não existe na opacidade formalista de Ritchie.

Coadjuvando Downey Jr., Jude Law aparece como Watson e a bela Rachel McAdams entre eles. A homossexualidade possível de Sherlock, caracterizada sutilmente como murmurações no filme de Wilder, é exposta mais cruamente no filme de Ritchie, fazendo uma opção por uma vulgaridade contemporânea mais rasteira do que provocativa.

 

P.S.: O clássico filme de Wilder, que tinha parentescos de argúcia muito mais com o escritor belga Georges Simenon do que com Conan Doyle, se referia a uma minimalista investigação de Sherlock sobre o sumiço duma mulher casada; Robert Stevens interpretava (mais discretamente que os artifícios egocêntricos de Downey Jr.) o detetive, enquanto Colin Blakely era Watson e Christopher Lee estava na pele do irmão de Sherlock, Mycroft Holmes. São filmes diversos, é verdade, com histórias e intenções diferentes, mas como ambos tratam duma personagem policial clássica as comparações assomam naturalmente.