Crítica sobre o Blu-ray "Paramount - 232 Min." do filme "Dez Mandamentos, Os":

Jorge Saldanha
Dez Mandamentos, Os Por Jorge Saldanha
| Data: 28/06/2012

Indiscutivelmente o principal aspecto a se considerar no Blu-ray de OS DEZ MANDAMENTOS é o primoroso trabalho de restauração feito. Diferentemente de BEN-HUR, que recebeu uma assombrosa restauração 8K, tivemos aqui “apenas” 4k, mas ainda assim o suficiente para que o filme preserve toda a sua glória mesmo na próxima geração da alta definição. Aqui, a Paramount está de parabéns, já que esta é uma das melhores apresentações visuais de um filme clássico que já vi. Diferentemente de épicos posteriores, OS DEZ MANDAMENTOS não foi rodado em tela larga, mas sim na proporção 1.85:1 – adaptada para 1.78:1 em sua versão para Blu-ray. Tirando esse pequeno senão, tudo o que a transferência 1080p/AVC MPEG-4 nos mostra é, simplesmente, maravilhoso. Dividido em duas partes a fim de não prejudicar a qualidade de som e imagem, o filme possui um nível de detalhes finos fantástico, que revela as mínimas texturas do tecido dos mantos hebreus, os pequenos desenhos dos ornamentos egípcios e as características faciais dos personagens. 

Em 1956 ainda era corriqueiro o lançamento de filmes em preto-e-branco, e DeMille empregou as cores de forma deslumbrante a fim de realçar o potencial do Technicolor. A paleta empregada, forte e brilhante, pode ser considerada demasiado exuberante para os discretos padrões contemporâneos, porém ela me agrada muito mais que os tons laranja-esverdeados que hoje predominam. Os tons de pele, ao contrário do que se poderia esperar, são naturais, e cenários, locações e figurinos ganham tonalidades belíssimas, e o mais importante: todo esse arsenal de cores é reproduzido de forma extremamente vívida e fiel nessa restauração, como se o filme tivesse sido rodado ontem. A película é completamente isenta de ruídos ou imperfeições, com uma granulação baixíssima para um filme de mais de cinco décadas. Apesar disso, não há indícios de aplicação de DNR graças à preservação do elevado nível de detalhamento da imagem. O único problema dessa qualidade toda é ressaltar dolorosamente os recortes em volta de personagens e objetos nas cenas de efeitos visuais ou onde os fundos foram inseridos na pós-produção – como quando Moisés mostra a seu pai a cidade que está construindo para ele. Sem dúvida um fator de distração, mas inerente às limitações técnicas do período no qual o filme foi realizado e que não é o suficiente para que esta apresentação deixe de ser material de demonstração, no que se refere a lançamentos de títulos clássicos em Blu-ray. 

Como sempre, o áudio é o calcanhar de Aquiles neste tipo de restauração. Não que a faixa lossless original em inglês (DTS-HD Master Audio 5.1) seja de má qualidade, mas o fato é que devido às técnicas de captação empregadas, ela nunca poderia atingir o nível da apresentação visual restaurada. Seu maior mérito é reproduzir de forma potente e detalhada a trilha musical de Bernstein. O som, na maior parte do tempo, concentra-se nos três canais dianteiros, com os canais surround providenciando um envolvimento apenas discreto. Os graves, em determinados momentos, são inesperadamente fortes para uma trilha de áudio antiga como essa, e os diálogos sempre são reproduzidos de forma clara, muitas vezes acompanhando a movimentação dos personagens pelos canais frontais. O áudio em inglês também está disponível em Dolby 2.0, assim como a dublagem em português. Temos também faixas mono em espanhol e francês, e legendas em português, inglês, espanhol e francês. Os menus (principais e pop up) estão apenas em inglês.