Os aspectos nostálgicos da comédia romântica hollywoodiana em Letra e música (Music and lyrics; 2007), dirigida por Marc Lawrence, a aproximariam da narrativa brasileira semidocumental 1972 (2006), de José Emílio Rondeau. Se o brasileiro centra seu assunto numa das muitas obscuras e esquecidas bandas de rock nos difíceis anos 70 no Brasil, o americano vai deliciar-se na figura anacrônica dum astro da música popular que foi ídolo nos anos 80 e hoje está no limbo; o glamour hollywoodiano, doce e fútil, está longe da desenvoltura topada por nosso filme nacional, mas certos aspectos de visão de um passado musical são comuns a uma e outra realização
Letra e música usa em abundância dos trejeitos cômico-românticos do inglês Hugh Grant (num de seus melhores momentos no cinema) e da americana Drew Barrymore (a sempre referida garotinha de E.T., o clássico infanto-juvenil que o americano Steven Spielberg rodou em 1982); a verdade é que a química entre os atores (tudo muito pasteurizado e já visto, sabemos todos) funciona de tal maneira que engolimos a pílula açucarada oferecida pela produção, que às vezes mimetiza cinematograficamente a doidice incovincente da personagem da cantora da moda, Cora Corman, certamente extraída da persona musical de Madona.
Mesmo assim, a maneira como a direção acompanha os esforços de composição musical das criaturas de Grant e de Barrymore indicam um certo caminho crítico na visão de como se faz um sucesso musical. Equilibrando-se entre a bobagem comercial descarada e um vôo um pouco mais que raso, Letra e música é, acima de tudo, um entretenimento divertido.