O diretor espanhol nascido no Chile Alejandro Amenábar, que assina também a música da realização (como já ocorrera em seu Os outros, 2001), utiliza e cores e planos muito fortes, em Mar adentro (Mar adentro; 2004), para acompanhar a tragédia de seu protagonista, Ramón Sampedro, um ex-marinheiro que ficou tetraplégico num acidente num mergulho e há vinte e oito anos está atado a uma cama (ele rejeita a cadeira de rodas); incapaz de qualquer movimento, sequer com as mãos, ele vai acionar a Justiça espanhola para que permita que a medicina o ajude a praticar a eutanásia.
Amenábar descreve energicamente o legítimo desejo de morrer de sua personagem. Vencendo a barreira das questões melodramáticas que se acercam das narrativas que se voltam para assuntos do gênero (o pobrezinho paralítico), Mar adentro mostra em Ramón um homem cuja vida segue adiante apesar de tudo; antes de seu desfecho, a criatura vai envolver-se sentimentalmente com a advogada de sua causa (que é portadora duma doença degenerativa) e com uma radialista interiorana; as contradições que surgem nas relações que se estabelecem entre Ramón e as duas mulheres vão estabelecer a complexidade do filme.
A grande seqüência de Mar adentro é aquela em que a mente de Ramón se solta para voar e a câmara de Amenábar, cruzando a janela do quarto, vai descrever um longo travelling-para-a-frente por entre montanhas e regiões florestais; sublinhado pela música de Giacomo Puccini, o intenso movimento de câmara vai produzir uma vertigem na cabeça do espectador sensível à estética cinematográfica.
Acrescentando-se às qualidades da obra, a interpretação de Javier Bardem na pele de Ramón é uma peça de antologia.