Crítica sobre o filme "Aventuras de Tintim, As":

Eron Duarte Fagundes
Aventuras de Tintim, As Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 27/01/2012

O norte-americano Steven Spielberg decidiu atuar em dose dupla na direção cinematográfica este último ano. Houve quem visse As aventuras de Tintim (The adventures of Tintim; 2011), uma animação que remete aos exageros de fantasia aventuresca de Os caçadores da arca perdida (1981), um dos mais comentados e emblemáticos filmes de Mister Spielberg, como uma concessão do realizador ao espetáculo de massa, descompromissado de qualquer outra coisa que não o divertido primitivo do cinema; contrapunha-se assim a uma narrativa mais séria e empenhada de Spielberg, como Cavalo de guerra (2011), um melodrama bonachão afundando-se em ambientações históricas. Estas discussões são frutos de uma visão de aparência do cinema, para não dizer um exercício de miopia crítica.

As cenas nos filmes de Spielberg (em Tintim, em Cavalo de guerra, em Contatos imediatos do terceiro grau, 1977) estão ali não em função dum pensamento dramático mas visando a paparicar o público, o que é um direito de qualquer diretor, vamos combinar. Não há muitas diferenças entre o que pretende Spielberg em Tintim e o que ele quer em Cavalo de guerra. É claro que o melodrama é maior neste e a aventura ágil transparece mais naquele. Mas as doses de melodrama e aventura se embaralham spielbergianamente nos dois filmes.

Os desenhos de Tintim são bonitos e a produção é bastante mais caprichada que em Cavalo de guerra, onde Spielberg se despojou de alguns artifícios técnicos ou plásticos. Mas a beleza visual é um gesto débil em Tintim. O roteiro dos ingleses Joe Cornish e Edgar Wright (que também já dirigiram seus filmes) parte das figuras originais de Hergé e contém elementos que poderiam indicar um caminho diferenciado de ação cinematográfica; mas Spielberg prefere repetir seus trejeitos já consagrados e manter-se em boa paz com seus espectadores de sempre, gente boa, gente de família. O repórter-detetive Tintim é, como Indiana Jones, um condutor característico deste gênero que se costuma chamar “filme de torcida”; esfregam-se as mãos e torce-se pelo protagonista, não há mais a fazer ou pensar.