Crítica sobre o filme "Música Segundo Tom Jobim, A":

Eron Duarte Fagundes
Música Segundo Tom Jobim, A Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 24/02/2012

Segundo Antônio Carlos Jobim, o compositor que universalizou e aprofundou o gingado (muito regional e superficial, apesar de seu ar de corte do império) carioca em suas canções e notas musicais, a linguagem da música se basta: ou seja, comenta a si mesma. Radicalizando esta epígrafe que aparece no fim do filme, o cineasta brasileiro Nelson Pereira dos Santos e sua codiretora Dora Jobim fazem de A música segundo Tom Jobim (2011) uma experiência inovadora extasiante cujo prazer de ouvir se estende para o signo duma imagem-som de que o cinema brasileiro ainda não teve correspondente. Abdicando das habituais entrevistas que sempre num documentário pretendem compor um retrato cinematográfico do protagonista, no caso deste filme de Nelson e Dora o retrato é feito de música: Tom em cena, Tom com outros parceiros, a música de Tom vivendo na boca, nos gestos e nas notas das mais diversas nacionalidades; música o tempo inteiro é o que propõe A música segundo Tom Jobim como uma linguagem que se basta, que evita exemplarmente os aspectos conceituais da literatura crítica.

O espectador pode não conhecer muitos dos atores-músicos que aparecem em cena. Não importa. Só nos créditos finais Nelson abre a mão e revela quem são. É claro que se você sabe quem foi Vinicius de Moraes ou Nara Leão surge um tipo de emoção; mas desconhecer aquela loira estrangeira que canta Tom com sotaque tem um charme diferente. Entre as performances, Elis Regina e Tom Jobim dividindo a cena para cantar Águas de março, com a manipulação do preenchimento do quadro e a variedade dos gestos característicos de Elis e Tom, é certamente o ponto alto deste elevado documentário.

O que sobressai daquilo que o documentário expõe com imagens e canções é que Tom, ainda que amado em vários recantos do mundo, só poderia originar-se da paisagem carioca, feito de morros e enseadas, e longos trechos de caminhadas à beira-mar, como quem não quer mais nada senão ver a garota de Ipanema passar. Tom Jobim talvez seja a materialização do poema que é a própria cidade do Rio de Janeiro.

 

P.S.: Todo o filme é feito de material de arquivo. A criatividade de montagem músico-cinematográfica que Nelson põe em cima deste material é exuberante.