Depois do estrondoso sucesso de STAR WARS (1977), o diretor George Lucas convidou seu amigo e colega Steven Spielberg, que no mesmo ano lançara outra ficção científica bem sucedida, CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU, para dirigir uma nova série de filmes protagonizada por um arqueólogo que percorria o mundo em busca de artefatos com poderes sobrenaturais ou paranormais. Spielberg, que à época queria dirigir um filme de James Bond, topou na hora, e o resto é história. OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA (que em seu lançamento em DVD fora rebatizado como “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida” e agora retorna ao seu título original) custou a bagatela de U$ 20 milhões, estreou em 1981 e, com sua proposta de transportar para os dias atuais as aventuras dos antigos seriados dos anos 1930 e 1940, foi outro sucesso esmagador. Com roteiro de Lawrence Kasdan (baseado em uma história de Lucas e Philip Kaufman), cenas de ação que já entraram para a história do cinema, um excepcional score de John Williams (além da célebre “Raiders March”, o maestro compôs um dos mais belos temas de sua carreira, o da Arca), Harrison Ford no papel que marcaria sua carreira, Karen Allen como a melhor namorada de Indy e Spielberg dirigindo no ápice de seu talento, o filme ainda hoje diverte e empolga, demonstrando ser um verdadeiro clássico da aventura e de longe o melhor filme da série. Vencedor do Oscar de 1981 nas categorias de Efeitos Visuais, Direção de Arte, Montagem, Som e Edição de Efeitos de Som.
Para a segunda aventura de Indy, Lucas e Spielberg resolveram alterar um pouco sua receita. Assim, INDIANA JONES E O TEMPLO DA PERDIÇÃO, que estreou em 1984, é um prelúdio que se desenrola um ano antes dos eventos de OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA. Além disso, realizaram uma aventura mais sombria e violenta, apesar de apresentar, desta vez, crianças em papéis relevantes (dada a controvérsia criada, Spielberg conseguiu introduzir uma nova faixa etária na censura americana, a hoje conhecida “PG-13”). Com tudo isso, o que resultou foi o filme mais fraco da trilogia original, fato admitido pelo próprio Spielberg. O roteiro de Willard Huyck e Gloria Katz é inferior ao de OS CAÇADORES, e o elenco secundário não consegue compensar as limitações com que os personagens foram escritos. Quem mais sofre é Kate Capshaw – comparar sua dondoca Willie Scott com Marion Ravenwood chega a ser covardia. Ainda assim o terço final do filme é uma montanha-russa de ação, e a partitura de John Williams, se não é tão boa quanto à do filme anterior, certamente é variada e inspirada: preste atenção nos temas criados para o romance de Indy e Willie, o garoto Short Round, a jornada dos heróis pela selva indiana, a cerimônia profana no Templo e a cena da perseguição da mina, todos memoráveis. Vencedor do Oscar de 1984 na categoria de Efeitos Visuais.
Lucas e Spielberg levaram mais tempo para realizar o filme que encerraria a trilogia inicialmente planejada, certamente para garantir que os problemas de O TEMPLO DA PERDIÇÃO não se repetissem. Portanto, INDIANA JONES E A ÚLTIMA CRUZADA chegou somente em 1989, mantendo uma estrutura bem similar à de OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA: os nazistas novamente são os vilões, e o objeto cobiçado é, mais uma vez, um artefato judaico / cristão (o Cálice Sagrado). Ainda assim, o filme apresenta suas inovações. Na sequência inicial assistimos a uma aventura de Indy ainda adolescente (interpretado pelo prematuramente falecido River Phoenix), que além de mostrar a origem das características do personagem (sua fobia por cobras, o chapéu, o uso do chicote, a cicatriz no queixo), introduz o mote do filme – o relacionamento conflituoso entre pai e filho, um dos temas preferidos de Spielberg. Considerado por muitos o melhor da série, não há dúvida de que A ÚLTIMA CRUZADA é o mais sofisticado, cuja trama é enriquecida pelo reencontro de Indy já adulto (Ford) com seu pai, o Dr. Henry Jones (Sean Connery). A impecável interpretação de Connery como o Jones pai e sua perfeita interação com Ford, dão ao filme um calor humano único. Um tempero especial é adicionado pelo fato de que tanto pai como filho conheceram, no sentido “bíblico”, a heroína / vilã Elsa Schneider (Alison Doody). O score de Williams mais uma vez é um destaque, e apesar de não possuir a originalidade de OS CAÇADORES e a variedade de O TEMPLO DA PERDIÇÃO, ainda é um ótimo trabalho – basta conferir os temas para o relacionamento de Indy com seu pai, e o dedicado ao Cálice Sagrado. Vencedor do Oscar de 1989 na categoria de Edição de Efeitos de Som, o longa se encerra com Indy, seu pai e os amigos Brody e Salla cavalgando rumo ao sol, naquele que poderia ser um final poético e perfeito para as aventuras do arqueólogo aventureiro.
Porém, a partir de 2000, Ford, Spielberg e Lucas começaram a discutir seriamente a possibilidade de uma nova aventura, e finalmente em 2008 INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL chegou às telas. Como seria de esperar, a idade de todos os envolvidos, e aí incluo até mesmo os fãs mais velhos, cobrou seu preço. Para agravar a situação, no roteiro de David Koepp sente-se a falta da mão de Lawrence Kasdan, e como resultado o filme em sua maior parte passa uma sensação de mesmice ou reciclagem. Se a trilogia original evoca os antigos seriados dos anos 1940, este quarto título busca inspirar-se nos filmes B de ficção científica dos anos 1950, onde a ameaça alienígena é uma metáfora da Guerra Fria e os russos ocupam a vaga que era dos nazistas. Mas a trama se perde em momentos tolos (e neles não vou nem incluir a cena de Indy sobrevivendo a uma explosão nuclear dentro de uma geladeira), e por mais que tentemos relevar pensando “ok, é um filme de Indiana Jones e não deve ser levado a sério”, fica muito difícil aceitar, por exemplo, que soldados e agentes russos, em pleno auge do McCarthismo e da paranóia anti-comunista, ajam com tanta liberdade em pleno solo norte-americano – e sempre falando inglês com aquele forte sotaque que já virou clichê. Pelo menos, então com 66 anos, Harrison Ford conseguiu a façanha de ainda ser um Indiana Jones aceitável, e o personagem à la James Dean de Shia LaBeouf, que o público não demora dez segundos para deduzir que é filho de Indy, consegue refrescar um pouco a trama. No balanço geral, entre coisas que parecem deslocadas em um filme de Indiana Jones (insetos feitos em CGI, alienígenas e discos voadores), este A CAVEIRA DE CRISTAL é uma boa aventura, mas que decepciona àqueles que testemunharam os tempos gloriosos da trilogia original.