Crítica sobre o filme "Bel Ami - O Sedutor":

Eron Duarte Fagundes
Bel Ami - O Sedutor Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 11/08/2012

Talvez se possa pensar, reacionariamente, que já não se fazem filmes de época como antigamente —o que é um jogo curioso com a sinonímia da questão da antiguidade —um autêntico filme de época é o que é realizado “em sua época” (?). Bel ami —o sedutor (Bel ami; 2012), filme dirigido a quatro mãos por Delan Donnellan e Nick Omerod a partir duma das poucas narrativas longas do contista francês Guy de Maupassant, avaliza esta sensação de uma reconstituição de época um tanto falsificada e que recolhe das impressões de um tempo os cantos mofados que acabam por transmitir o ranço aos próprios aspectos formais da realização.

Bel ami —o sedutor adota como ponto de vista formal a estilização europeia de filmar, com a sutileza dos movimentos de câmara que se casam com a utilização dos cenários nos enquadramentos e se completam no esforço de captar a essência das personagens nos gestos dos atores. Para isto, a produção se esmera na grandiloquência das ambientações e do guarda-roupa e conta com um elenco em que despontam atrizes como a inglesa Kristin Scott Thomas e as americanas Uma Thurman e Christina Ricci; o naufrágio maior das interpretações fica por conta da fragilidade do desempenho de Robert Pattinson, justamente o astro central, em torno do qual todos os dilemas sociais e morais devem orbitar.

O resultado final é frustrante e aborrecido. O que acaba transformando a pretensão crítica da realização em puro mofo. Se Bel ami pretendeu chegar a retratar as relações vazias e mofadas da aristocracia parisiense do fim do século XIX (o decadentismo pequeno-burguês pós-balzaquiano), veio a insuflar na própria alma de sua narrativa este vazio e este mofo, provocando enfado no observador. É algo mais ou menos semelhante àquilo que o alemão Volker Schlondorff fez com o salões proustianos em Um amor de Swann (1984): os salões de Maupaussant no filme Bel ami entediam, mais do que seduzem. Se alguém quiser questionar o que seria então uma narrativa de época viva e pulsante, eu aconselharia rever em dvd a obra-prima Casanova e a revolução (1982), do italiano Ettore Scola.

P.S.: Pattinson lendo “La vie française”, Uma falando da ação governamental no Marrocos ou referências ao sofisticado Boulevard Haussmann são excertos de sofisticação que mais falsificam do que aprofundam os acordes literários ou intelectuais desta produção europeia facilmente passável.