Crítica sobre o filme "Bel Ami - O Sedutor":

Rubens Ewald Filho
Bel Ami - O Sedutor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/08/2012

Não podia haver pior momento para lançar este filme do que esta semana, quando continua repercutindo a notícia de que Kristen Stewart, num gesto que só pode ser tresloucado, confessou publicamente que tinha traído seu companheiro Robert Pattinson com o diretor de Branca de Neve e o Caçador, Rupert Sanders,  um homem mais velho, casado e com filhos. Por que fez isso? Para que tornar público algo tão íntimo? Se antes nunca tinha admitido publicamente nem o caso com o próprio parceiro da série Crepúsculo?  Será que não pensou que isso poderia prejudicar não apenas o lançamento do filme final agora em novembro, mas a própria carreira de ambos? Que mesmo em países liberais, Pattinson está sofrendo uma humilhação pública? Que espécie de galã é esse que virou traído? Como se não bastasse a injustiça da maior parte da crítica/imprensa estrangeira que louva Kristen (talvez a pior atriz desta década) e demole Pattinson constantemente (este Bel Ami saiu há pouco nos EUA, em umas poucas salas, e não rendeu nem um milhão de dólares, nem meio milhão!).

Na verdade, a ação parece até coisa de vingança inspirada no que o herói deste filme (o Bel Ami) seria capaz de fazer. Certamente, Pattison achou que este personagem seria uma boa oportunidade para fazer esquecer seus tempos de vampiro. Mas se enganou. O filme foi mal no Festival de Berlim e entendiou jornalistas americanos incapazes de saber quem foi o autor da história, o grande escritor e principalmente contista francês Guy de Maupassant (1850-93), numa história que teria sido escrita em 1885, quando já estava morrendo de sífilis - ou seja, com todo o cinismo do mundo. Tentaram comparar com Ligações Perigosas (talvez pela presença também de Thurman), que é de outro século e com outra proposta. Se querem comparar, está muito mais próximo ao Cheri (2009) de Stephen Frears. Ainda que não entre prostitutas, mas madames da sociedade.

Na verdade, este Bel Ami já foi adaptado para o cinema inúmeras vezes (por volta de dez), mas a única que assisti foi com George Sanders, Homem sem Coração (The Private Affairs of Bel Ami, 47, de Albert Lewin, o mesmo de O Retrato de Dorian Gray e Pandora, com Ava Gardner). Quem fez o papel central já estava quase na meia idade e tinha uma cara de safado e cafajeste classudo, George Sanders (aquele que se suicidou dizendo que ia se matar porque estava entediado de tudo na vida!).

Pattinson esperou pelo projeto durante muito tempo porque confiou na dupla (praticamente estreante) de diretores, Declan Donnellan e Nick Ormerod, que são respeitados na Grã-Bretanha porque fundaram um grupo de teatro chamado Cheek by Jowl. Pena que eles fizeram um trabalho correto mas lento, sem paixão, com bonita cenografia (rodado basicamente na Hungria, que era mais barato) mas pouca criação. Basicamente, eles mostram o aprendizado da ascenção na vida e na carreira social de um ex-soldado, Georges Duroy, que lutou no deserto e agora trabalha na ferrovia. Sem cultura, sem muita inteligência, só tem a juventude e a raiva de ter vindo de uma família paupérrima de camponeses. Numa noitada de Can Can, Duroy esbarra num companheiro de farda que agora trabalha num jornal de oposição, La Vie Parisienne. Ajudado pela mulher dele, Madeleine (Thurman), começa a escrever  um diário do deserto, que através de vários meandros o leva a conhecer as amigas de Madeleine (que é interessada em política, inteligente e livre). Assim inicia um romance com Clotilde de Marelle (Christina Ricci, a melhor do elenco), que o levará a mulher do dono do jornal, um homem rico e nobre (Colm Meaney). Essa mulher é Virginie Rousset, interpretada pela sempre notável Kristin Scott Thomas.

Duroy é mostrado inicialmente como um ingênuo, mais preocupado em romance e sexo, que fica encantado com as atenções e não está nem um pouco preparado para subir na alta sociedade. E, na verdade, custa muito para aprender, e somente na parte final, motivado por ser rejeitado pela mulher que realmente deseja, é que perde os escrúpulos (mas nem isso fica claro, porque Pattinson é um ator tão passivo que fica difícil entender qualquer sentimento que ele tenta transmitir). E, mesmo assim, Duroy não parece contente com isso, mas com o fato de que a única mulher fiel está presente no casamento.

Depois de tê-lo visto algumas vezes, acho que finalmente matei a charada de Pattinson: ele deve ser muito míope, porque seus olhos não refletem nunca nada, parecem que realmente não sente nada, porque não está vendo nada (deve usar lentes, mas não resultam). Sem uma figura forte central, o filme está condenado. Não o achei tão ruim, porque além de gostar de filme de época, estão as mulheres. Christina Ricci era uma garotinha condenada a ser gorda que se rebelou e passa fome há anos. Pequenina, não sei como aprendeu, mas o fato é que aqui está sensível, delicada, frágil e atraente. Uma Thurman, ao contrário, amadureceu, continua bonita e melhor atriz ainda. Elas e mais Kristin ajudam o filme a ser até interessante, mas muito distante do que poderia e deveria ter sido.